NOVA YORK E SÃO PAULO - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou haver muitas incertezas sobre o crescimento futuro no Brasil. Segundo ele, apesar dos juros muito altos no País, as taxas já estão caindo, a economia brasileira continuou surpreendendo positivamente e as reformas começam a mostrar resultado.
“Existem ainda muitas incertezas sobre o futuro crescimento do Brasil”, disse Campos Neto, mencionando as diversas reformas feitas no País como a do mercado de trabalho, a tributária, que está sendo avaliada pelo Senado, dentre outras. “Temos muitas reformas e elas estão começando a mostrar resultado”, acrescentou. Ele participa de evento organizado pelo Valor Capital Group, em Nova York.
Campos Neto lembrou que a agricultura foi responsável por grande parte do crescimento brasileiro. O País deve crescer cerca de 3% neste ano, mas essa taxa de expansão vai abrandar um pouco para o próximo ano, disse.
Ele destacou ainda que o Brasil está em processo de corte de juros, que o mercado de crédito dá sinais de maior atividade novamente e os mercados de capitais começam a reabrir.
“No Brasil, os mercados de capitais nunca se fecharam, mas tivemos uma redução nas emissões de renda fixa. O mercado de ações no Brasil tem sido um mercado difícil e isso também se deve aos emissores, mas um dos objetivos é tentar mudar isso”, disse Campos Neto.
O presidente do BC voltou a falar no risco de uma “desancoragem dupla” no Brasil, um episódio no qual, se o mercado não acredita na política fiscal, também terá dúvidas sobre o cumprimento da meta de inflação. E voltou acrescentar que não há uma relação mecânica entre a política fiscal e a monetária, lembrando que o BC reagirá conforme a resposta dos preços de ativos.
Custo de mudar meta fiscal
Campos Neto disse que o custo de mudar a meta fiscal de 2024 seria maior do que o benefício gerado, devido ao aumento de incerteza decorrente de uma revisão do alvo.
“O custo de fazer isso (mudar a meta) é maior do que o benefício em termos de gastar um pouco mais, e por muito, em termos da incerteza que gera e do custo da incerteza em variáveis macroeconômicas, uma das quais é o investimento, que promove o crescimento”, disse.
Ele acrescentou que uma mudança da meta, que hoje prevê zeragem do déficit primário em 2024, poderia ser interpretada pelos agentes como um “abandono” do novo arcabouço fiscal, que tornaria muito mais difícil estimar o crescimento das despesas do governo nos próximos anos.
“Nós, economistas, quando temos mais incerteza, tendemos a embutir prêmio, e o mercado também”, afirmou.
Campos Neto lembrou que o arcabouço fiscal tem gatilhos elaborados para o caso de uma meta não ser cumprida e elogiou o trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em desenhar uma regra possível para o Brasil. Ele acrescentou que o teto de gastos tinha problemas, já que limitava o crescimento global das despesas à inflação, embora algumas rubricas tivessem de avançar acima do IPCA.
Dever de casa
O presidente do BC destacou que juros elevados nos países desenvolvidos forçam os países emergentes a fazerem o dever de casa porque a liquidez no mundo fica mais restrita. “Significa que precisamos fazer o nosso dever de casa porque a liquidez não está mais disponível como antes.”
Ao comentar sobre o Brasil, o presidente do BC disse que o País sempre teve uma “história de inflação” e, que considerando isso, a autoridade entendeu que ao subir os juros de maneira mais rápida e previamente, o custo seria menor para a economia. “Porque tempo é tudo”, disse.
Segundo ele, o Brasil foi mais agressivo na subida de juros e isso fez com que muitas vezes fosse chamado de “elefante na loja de cristais” por causa do processo de aperto monetário, que não estava sendo visto em outras economias. “E então o que começamos a ver foi que isso era comum a muitos outros países”, disse.
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