BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ter uma visão “mais cética” sobre a capacidade de as eleições americanas influenciarem os mercados. Em uma entrevista à rede americana CNBC, ele afirmou que esses efeitos podem ser mais limitados.
Campos Neto também voltou a dizer que as propostas em discussão nas eleições dos Estados Unidos — com aumento do protecionismo, combate à imigração e expansão fiscal — indicam uma inflação mais alta no país. Isso, ele afirmou, pode levar os juros americanos a estacionar em um nível mais alto.
“Se esse for o caso, talvez os juros dos EUA não possam cair tanto quanto iriam. E, se esse for o caso, há um impacto para os mercados emergentes”, afirmou Campos Neto. “Pode impactar a maneira como os mercados emergentes lidam com seus próprios problemas, porque isso impacta o custo de financiamento globalmente.”
O chefe do BC afirmou que considera o cenário de “soft landing” (”pouso suave”) na economia americana mais provável. “Achamos que podemos dizer isso cada vez mais”, ele afirmou. “Mas eu diria que a probabilidade do cenário de ‘hard landing’ diminuiu, e que a do cenário de ‘no landing aumentou.’”
Segundo ele, um “soft landing” da economia americana seria importante para o restante do mundo, especialmente para países que estão calibrando as suas políticas monetárias.
Falando sobre a inflação, Campos Neto disse que a grande dúvida é como as condições financeiras podem não estar restritivas o bastante para frear as economias, em meio a juros altos. “Essa é a questão, eu acho, que as pessoas estão perguntando não apenas no Brasil, mas em diferentes lugares”, ele disse, citando a expansão fiscal e algumas mudanças estruturais como possíveis explicações desse fenômeno.
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Necessidade de ‘choque fiscal’
Campos Neto repetiu que todas as quedas sustentáveis de juros no Brasil estiveram relacionadas a choques fiscais positivos. “É muito difícil imaginar uma situação em que, partindo de agora, nós somos capazes de ter juros muito menores do que hoje, a menos que nós sejamos capazes, de alguma forma, de produzir um choque positivo no lado fiscal”, afirmou.
Indagado sobre a situação fiscal do Brasil, ele afirmou que o aumento da dívida é um problema global.
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