BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 21, que, apesar da sinalização de continuidade de cortes de 0,50 pontos porcentuais na taxa básica de juros (Selic) nas próximas reuniões, o Comitê de Política Monetária (Copom) reavalia esse ritmo a cada encontro.
“Não garantimos nada. O que dizemos é que, com variáveis que temos hoje, entendemos que ritmo adequado é corte de 0,50 pp. E ‘próximas reuniões’ significa as duas próximas reuniões”, enfatizou. “Em cada reunião do Copom, o cenário e a comunicação são novamente reavaliados”, completou.
Campos Neto reafirmou que o ritmo de cortes da Selic não está diretamente ligado ao resultado fiscal do governo e nem com medidas específicas de arrecadação ou corte de despesas.
“Olhamos o fiscal como uma variável que não é mecânica, mas pode influenciar as expectativas de inflação e o prêmio de risco. É importante que o mercado acredite que o governo tem um plano para estabilizar a trajetória da dívida”, avaliou. “Não olhamos medidas A ou B no varejo, mas o efeito agregado delas”, explicou.
Mais uma vez, o presidente do BC elogiou o esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na aprovação de medidas no Congresso. “Entendemos que o esforço fiscal precisa continuar. Há medidas de arrecadação que foram aprovadas, mas é difícil saber se a arrecadação projetada será realizada”, concluiu.
Relação com o governo
Campos Neto disse que, ao longo do ano, o governo entendeu quão técnico é o trabalho da autoridade monetária, o que melhorou o relacionamento entre as partes - após um início de ano com muitas críticas à condução da política monetária pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Esse foi o primeiro teste da autonomia, um teste em que a gente aprendeu muito, de todos os lados, o BC convivendo com o governo novo”, disse.
Ele destacou que, com Haddad, a interação foi crescente ao longo de 2023. “Temos boa relação com o governo e esperamos que o relacionamento melhore”, disse.
O presidente da autoridade monetária também comentou que já conversou com argentinos, defendendo que uma agenda reformista cria tempo para países em dificuldade com o fiscal. Ele aproveitou para frisar que no Brasil também há preocupação do mercado com o fiscal, mas a sinalização de reformas e a perseguição dessas metas também têm efeito relevante.
O presidente da Argentina, Javier Milei, assinou ontem uma série de decretos que promovem uma desregulamentação da economia, como revogações de leis nos setores imobiliários, de abastecimento e de controle de preços.
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