WASHINGTON - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, comparou a Selic a uma dosagem de antibiótico e disse que ainda não é hora de reduzir os juros no Brasil em conversa com investidores no âmbito das reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), conforme apurou o Estadão/Broadcast. Segundo ele, a queda da inflação em março é só mais um dado e a autoridade monitora o momento certo de começar a baixar as taxas - e que ainda não chegou, dizem fontes, na condição de anonimato.
Campos Neto falou a investidores nesta manhã durante evento da XP Investimentos, que acontece em Washington, em paralelo às reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial. A plateia era composta majoritariamente por brasileiros que operam internacionalmente e economistas de assets domésticas, de acordo com relatos de participantes que pediram para não serem citados, uma vez que o encontro era restrito a convidados.
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Em sua fala, o presidente do BC fez uma metáfora e comparou a Selic a uma dosagem de antibiótico, onde a economia é o paciente, de acordo com uma fonte. “Se você parar no meio do tratamento só porque você tem os primeiros sintomas mais positivos, você pode perder todo o efeito”, explica.
Segundo participantes, o presidente do BC sinalizou que as expectativas de inflação ainda estão elevadas e há um trabalho à frente a ser feito. Na sua visão, o melhor desempenho do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março foi só mais um dado e não sustenta o início da redução dos juros no Brasil. Apesar disso, não indicou quando seria esse momento, afirmam.
Quando questionado por investidores sobre pressões políticas para baixar os juros no Brasil, Campos Neto desviou. Também evitou comentar a possibilidade de mudar a meta da inflação brasileira, mencionando a experiência internacional, que mostra que não necessariamente tal passo ajudaria a reduzir as taxas.
Do lado fiscal, o presidente do BC avaliou que a proposta do novo arcabouço sugerida pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva “tira o risco de cauda da frente”, conforme fontes. “Ele falou de boa vontade muitas vezes, de boa vontade do governo apresentar um fiscal mais ok”, cita uma delas.
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