BRASÍLIA - Após nove trimestres liderando a lista de dores de cabeça da indústria brasileira, a falta de matérias-primas deixou o topo desse ranking no último trimestre do ano passado, sendo substituída pelo velho problema da alta carga tributária brasileira.
No quarto trimestre de 2022, 32,1% dos empresários ouvidos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) citaram o peso dos impostos como um dos entraves à produção, enquanto 31% ainda reclamaram da dificuldade em obter insumos. No trimestre anterior, a falta de matéria-prima ainda afetava 38,1% dos entrevistados.
“Historicamente, o problema da elevada carga tributária usualmente ocupava a primeira posição do ranking e, com o advento da pandemia e o consequente desequilíbrio das cadeias de insumos, passou a ocupar o segundo lugar, já que a questão dos insumos e matérias-primas ganhou maior relevância”, destacou a CNI.
No ano passado, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro reduziu em 35% as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industriais (IPI) dos bens que não são produzidos na Zona Franca de Manaus. Na última segunda-feira, 16, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lembrou que o setor pagar quase um terço dos impostos enquanto responde por 10% da produção e disse que o novo governo decidiu não reonerar o IPI “sinalizar para a indústria o desejo de aprovar a reforma tributária”.
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, prometeu, em reunião no mesmo dia na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que vai trabalhar para acabar com a cobrança do IPI na reforma. “Havia a possibilidade de ser cancelada a redução de 35% do IPI, e conseguimos que isso não fosse incorporado. A próxima meta é acabar com IPI, e acabar com IPI é pela reforma tributária”, declarou Alckmin na ocasião.
De acordo com a CNI, completam o ranking de problemas do setor a demanda interna insuficiente (citada por 29,8% dos empresários), as taxas de juros elevadas (23,8%), a taxa de câmbio (14,8%) e a falta ou o alto custo do trabalhador qualificado (13,8%).
Desaceleração
Como tradicionalmente ocorre no último mês de cada ano, a produção industrial recuou em dezembro. Em uma escala na qual valores abaixo dos 50 pontos significam retração, a atividade nas fábricas ficou em 42,8 pontos no mês passado. Segundo a CNI, ainda assim esse patamar ficou acima da média histórica de 41,8 pontos para o período, sinalizando que essa queda foi menor que as de outros anos.
Considerado pela entidade também como usual para o fim do ano, o emprego na indústria registrou 46,9 pontos em dezembro, também no campo da retração. “O resultado está abaixo da linha divisória dos 50 pontos desde outubro, indicando que há percepção de queda do emprego industrial no último trimestre de 2022″, destacou a CNI.
Com isso, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) recuou 4 pontos porcentuais no mês passado, para 67%, enquanto os estoques do setor seguem acima do planejado pelos empresários. “Desde julho de 2022, os resultados desse índice vêm ficando acima dos 50 pontos, indicando estoques acima do planejado”, completou o documento.
Ainda assim quase todos os componentes do índice de expectativas para os próximos seis meses melhoraram em janeiro, indicando que o otimismo dos executivos está mais forte e difundido. “Os índices de expectativa de demanda, de compras de matérias-primas e de quantidade exportada aumentaram, indicando maior otimismo dos empresários com expectativas de crescimento nos próximos seis meses. No entanto, o índice de expectativa de número de empregados, manteve-se estável, pouco abaixo dos 50 pontos”, concluiu a CNI.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.