Ao longo dos últimos anos, o banqueiro Daniel Vorcaro investiu, tanto por meio do Banco Master, seus fundos e na pessoa física, em diversas empresas − muitas delas de capital fechado e baixa liquidez, além de algumas listadas em bolsa com dificuldades financeiras. Entre os casos que vieram a público, já é possível identificar apostas com baixa perspectiva de retorno, enquanto outras ainda dependem de tempo e aportes adicionais para se concretizarem.
A Veste, ex-Restoque, que entrou em recuperação extrajudicial, foi salva por uma conversão de dívida em ações que deu ao Master e a Vorcaro uma fatia de 56% na varejista. Houve ainda o compromisso de um aporte de R$ 100 milhões na empresa. A estratégia foi conduzida pela WNT, gestora especializada em ativos em situação de estresse financeiro, por meio de um fundo no qual Vorcaro e Master eram os maiores cotistas.
Passados quase três anos, as ações da Veste perderam valor, saindo de cerca de R$ 12,00 para R$ 6,70 na cotação de segunda-feira,7. Antes da pandemia, operavam em torno de R$ 145,00. Procurada, a companhia não comentou.
Outra aposta que chama a atenção é o investimento de R$ 1,5 bilhão realizado no ano passado na Oncoclínicas, em parceria com o fundador da empresa, o médico Bruno Ferrari. A companhia atravessa dificuldades financeiras decorrentes de uma série de aquisições feitas para ampliar sua rede nos últimos anos. A situação se agravou com a crise no setor de saúde, que ganhou força a partir de 2023 e gerou desequilíbrios tanto para operadoras quanto para prestadores de serviços.

Atualmente, o Master tem 19,9% de participação na Oncoclínicas. As ações da empresa são negociadas ao redor de R$ 5,00. Em janeiro do ano passado, valiam perto de R$ 13,00. Há fundos que compram ativos estressados interessados na empresa, mas se precisar vender será a preço baixo no atual cenário. Procurada, a Oncoclínicas não comentou.
O capital para esses investimentos, realizados por meio de empréstimos ou estruturas que preveem a conversão em participações societárias, veio, em grande parte, de investidores que, nos últimos cinco anos, aplicaram mais de R$ 50 bilhões em certificados de depósito bancário (CDBs) emitidos pelo Banco Master. Também contribuíram instituições que integram o conglomerado, como o willbank e o Voiter.
Segundo um analista que prefere não se identificar, trata-se de uma estratégia atípica para bancos, cujo negócio é emprestar recursos para ter liquidez corrente e fazer frente a seus compromissos. Até o final do ano, os vencimentos de CDBs do Master somam mais de R$ 12 bilhões, de acordo com o balanço de 2024.
Em entrevista ao Estadão/Broadacast em outubro do ano passado, Vorcaro defendeu sua estratégia de investir em empresas em necessidade e afirmou que seguiria no negócio. “Não fazemos operações tradicionais ou triviais, de dar cheque especial para empresas”, disse na ocasião. Outras investidas foram Metalfrio, do mesmo empresário da Restoque, e a BeFly, dona da Flytour.
Diversificação
No ano passado, Vorcaro diversificou os negócios para o setor de mineração, com a aquisição da Itaminas, empresa de extração e processamento de minérios de ferro, em parceria com empresários mineiros do setor de mineração e agronegócio. Quando entrou na operação, uma dívida de quase R$ 1,7 bilhão com União já havia sido equalizada. O valor do negócio não foi revelado, mas reportagens publicadas na época indicavam que a transação ficou na casa de R$ 2 bilhões.
A empresa, já sob novos sócios, informou investimentos de R$ 1,5 bilhão até 2033. “O Banco Master, uma das instituições financeiras mais sólidas e inovadoras do Brasil, tem desempenhado um papel crucial nesta transação”, disse um dos grupos sócios na ocasião.
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O Master entrou ainda, no final do ano passado, na SteelCorp, empresa de construção baseada em estruturas de aço, por meio de um fundo gerido pela gestora Reag, que detém fatia de 30% na empresa. Entre os sócios da companhia está o publicitário Roberto Justus. Uma negociação com Daniel Vorcaro estava em andamento, a qual a SteelCorp informou não estar concluída.
Ainda em 2024, o Master adquiriu participação na Biomm, farmacêutica mineira que tem como carro-chefe a insulina e pede autorização na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para distribuir um similar da Ozempic, medicamento para diabéticos, usado também como alternativa ao emagrecimento. A empresa, no entanto, vem amargando prejuízos. Em 2024, o resultado foi negativo em R$ 77 milhões, após encerrar 2023 com perdas de R$ 81 milhões.
Procurada, a Biomm disse ser companhia de capital aberto, com conselheiros independentes e com regras de governança reguladas pela B3, além ter capital pulverizado e sem acionista com posição majoritária das ações.
Rede complexa
A estrutura engenhosa de seus fundos e os geridos para terceiros sempre geraram questionamentos no mercado sobre o grau de envolvimento do Banco Master e do próprio banqueiro em outras transações de socorro a empresas.
Agentes do mercado apontaram que o Master seria cotista de um fundo da Trustee DTVM, que chegou a deter, no ano passado, uma participação de 15% na Ambipar, empresa do setor de gestão de resíduos e soluções ambientais. Essa fatia levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a determinar que a instituição financeira convocasse uma oferta pública de aquisição (OPA) para a totalidade das ações da companhia no mercado.
Segundo a CVM, as aquisições ultrapassaram o limite de um terço das ações da empresa em circulação (free float) na bolsa − essa barreira foi extrapolada em 12 de julho do ano passado.
A Trustee pertence a Mauricio Quadrado, ex-sócio de Vorcaro no Master. Na Ambipar, chamou a atenção do mercado a valorização expressiva dos papéis em apenas seis meses. As ações da companhia na Bolsa saíram de cerca de R$ 6,00 em junho de 2024, mês em que a Trustee comprou a posição, para uma máxima histórica acima de R$ 260,00 em dezembro do ano passado. Em nota, a assessoria de imprensa do Banco Master negou que Daniel Vorcaro seja cotista do fundo da Trustee que investe em Ambipar.
O Banco Master reportou um lucro líquido de R$ 1 bilhão em 2024 e analistas chamaram a atenção para o reconhecimento de um ganho elevado com a aquisição do banco Voiter e no valor dos precatórios, que compõem sua carteira de crédito.
Na sexta-feira, 28, o Banco de Brasília (BRB) anunciou a compra de 60% do Banco Master, uma operação vista pelo mercado como uma solução para resolver os problemas de liquidez do banco privado.
O Fundo Garantidor de Créditos (FGC), responsável por garantir depósitos e investimentos até R$ 250 mil por CPF, tem uma reserva de R$ 114 bilhões para eventos de quebra de instituições financeiras. O saldo de CDBs do Master equivale a cerca da metade da liquidez disponível pelo FGC.