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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Primeiros movimentos do governo Lula

A impressão que fica é que o novo governo Lula pretende fazer uma administração moderada, sem as práticas heterodoxas experimentadas ao longo do governo Dilma

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Do ponto de vista econômico, o pré-lançamento da administração Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega com certa ambiguidade.

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O quarteto que vai lidar com a transição econômica entre os governos (André Lara Resende, Persio Arida, Guilherme Mello e Nelson Barbosa) é um sinal inequívoco de que a administração Lula ficará bem mais parecida com a temporada pé no chão do ministro Antonio Palocci, do primeiro governo Lula, do que com as práticas heterodoxas experimentadas ao longo do governo Dilma.

André Lara Resende e Persio Arida constituíram a chamada “dupla Larida” que formatou o bem-sucedido Plano Real, de 1994. Na ocasião, o PT se postou radicalmente contra esse programa anti-inflacionário, menos porque seus dirigentes duvidassem da eficácia do pacote e mais porque sentiram que seu funcionamento catapultaria a candidatura à Presidência do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, como aconteceu.

Lula ainda qualificou de “herança maldita” a situação econômica que recebeu de Fernando Henrique Cardoso. Mas, agora se vê, não deixou de dar valor às qualidades profissionais dos pais do Plano Real.

Falta saber quem será o ministro da Economia. Lula adiantou que pretende nomear um político, o que ainda está para ser confirmado. Mas as indicações são de que não será nem um aventureiro nem um paraquedista.

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Outro integrante do campo da transição é o “waiver” (autorização para furar o teto das despesas) a ser solicitado ao Congresso, destinado a liberar verbas extras para dar conta dos gastos previstos a partir de janeiro.

O primeiro fator de inquietação da transição de governo, liderada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, é o do real volume de recursos solicitados nesse processo de transição. Começou com alguma coisa em torno de R$ 100 bilhões e foi subindo. Rapidamente chegou a R$ 175 bilhões, mas já há quem crave R$ 200 bilhões.

Transição de governo é liderada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Fica a impressão de que falta noção de limite. Mas não é só isso. Esses recursos extras não vêm apenas para cobrir despesas episódicas, do tipo “once for all”. Essas despesas vêm para ficar para sempre, sem que se tenha noção da cobertura orçamentária para elas no futuro. E o risco é o de que os recursos para as despesas de interesse social prometidas ao longo da campanha eleitoral deixem a descoberto necessidades prementes em áreas igualmente importantes do ponto de vista social, como a Saúde, Educação, Segurança e o cumprimento das metas ambientais.

A ideia de que esses rombos serão tapados quando vier a ser aprovada a reforma tributária, uma das prioridades do novo governo Lula, alimenta a suspeita de que o equilíbrio fiscal só será possível com aumento correspondente da carga tributária.

De todo modo, está tudo ainda no estágio embrionário. As opções não foram totalmente levantadas, as decisões não foram tomadas e muita água terá ainda de correr por aí.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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