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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|2023: o ano em que o mercado errou sobre a economia brasileira

Ano se encerra com erro na maioria das previsões feitas por analistas do mercado financeiro

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Foto do author Celso Ming

Na área econômica, sob muitos aspectos, este 2023 se saiu melhor do que estava nas projeções. É o que dá para concluir da comparação das previsões registradas no Relatório Focus, do Banco Central (BC), com os resultados finais do ano.

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O Focus é uma pesquisa que o BC faz semanalmente entre cerca de 140 instituições do mercado financeiro, com o objetivo de aferir as expectativas do mercado. No último relatório de 2022, a variação do PIB (Produto Interno Bruto ou Renda Nacional) para 2023 estava avaliada em 0,80% positivo. Pois vai dar algo em torno dos 3,0%.

As apostas na inflação do ano estavam em 5,31%, mas os números finais ficarão quase um ponto porcentual mais baixos. A média para a previsão dos juros básicos (Selic) foi de 12,25%, magnitude que mais se aproximou dos 11,75% fixados na última reunião do Copom.

A expectativa do saldo da balança comercial (exportações menos importações) saiu dos US$ 58 bilhões, mas deve ficar em torno de US$ 97 bilhões. O saldo para os Investimentos Diretos no País (investimentos estrangeiros) estava previsto em US$ 80 bilhões, mas recuou e deve fechar o ano abaixo dos R$ 60 bilhões.

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A cotação de venda do dólar foi de R$ 5,27. Deve terminar o ano em torno dos R$ 4,90.

Ninguém esperava o salto de vara da produção agropecuária no PIB do primeiro trimestre; nem o forte avanço das exportações de petróleo e derivados; nem a disparada da Bolsa, que poderá ter evoluído 20%; nem a queda acentuada do desemprego, estimado entre 8% e 10%, mas que vai ficar mais perto dos 7,5%. A percepção de risco País, que começou o ano nos 223 pontos porcentuais acima do que pagavam os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, deverá fechar o ano nos 135 pontos.

Essas diferenças relevantes entre expectativas e resultados finais levantam dúvidas sobre a capacidade dos analistas de prever o futuro num intervalo de apenas 12 meses. E estes não são meros palpites descompromissados. A grande maioria das projeções serve de base para tomada de decisões que envolvem muito dinheiro, por empresas e investidores.

Seja como tiver sido ou como for, o chamado mercado parece não se ter dado conta das transformações em curso na economia. As reformas, embora imperfeitas, começam a produzir efeitos. O agronegócio, bem mais do que puramente aumento da produção, reflete mudança de mentalidade inovadora. O impacto positivo sobre a produtividade da Tecnologia da Informação e dos aplicativos parece subavaliado. Nem levou em conta que o grande despejo de moeda ao redor do mundo aumentou a demanda por alimentos e energia, o que beneficiou o Brasil.

Nem tudo foi sucesso. Houve desempenhos fortemente negativos na área fiscal. Sobram dúvidas sobre a aprovação do chamado arcabouço fiscal. A indústria de transformação continua desmilinguindo. A dívida pública segue crescendo. E, mais que tudo, os índices de poupança e de investimento tiveram comportamento decepcionante e, nessas condições, comprometem o avanço futuro da atividade econômica e do emprego.

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Mas 2023 saiu melhor na foto.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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