Faltam apenas oito meses para o início da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP-30), que se realizará em Belém. Mas a realização do evento aponta para mais problemas políticos, logísticos e até mesmo ambientais do que para soluções.
O maior risco é o de que o Brasil sedie mais uma COP sem avanços no enfrentamento das mudanças climáticas.
O primeiro grande entrave é o do provável enfraquecimento da cooperação internacional que se segue à ausência nos debates das autoridades dos Estados Unidos, um dos maiores poluidores do mundo. Além da retirada do Acordo de Paris, o presidente Donald Trump anunciou grande reforço à produção de combustíveis fósseis.
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Na última terça-feira, 260 organizações não governamentais publicaram carta enviada ao governo brasileiro em que pedem o fim da influência de lobistas do setor de combustíveis fósseis nas discussões da conferência. As últimas três conferências do clima da ONU Egito (2022), Emirados Árabes Unidos (2023) e Azerbaijão (2024) foram sediadas em potências petrolíferas - condição que, segundo ambientalistas, vem travando o debate sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis nas matrizes energéticas.
As edições anteriores da COP também não produziram um acordo satisfatório sobre o financiamento de países desenvolvidos às iniciativas de economias emergentes destinadas a neutralizar o efeito estufa. Na campanha eleitoral, o presidente Lula prometeu a retomada da política ambiental destroçada pela boiada do governo Bolsonaro mas, até o momento, não conseguiu convencer o mundo de que essa é uma prioridade.
Na última edição da revista Science, uma das principais publicações científicas do mundo, o Brasil foi criticado em editorial porque a maioria das políticas do governo Lula promove ações que aumentam as emissões de gases poluidores.
O desmatamento na Amazônia Legal aumentou 68% em janeiro de 2025 na comparação anual, conforme dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). A área de destruição florestal totalizou 133 km² ou mais de 400 campos de futebol destruídos por dia.

À frente do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva parece enfraquecida. Não consegue promover ações efetivas. A última NDC brasileira (como é chamado o compromisso que define metas para a redução de emissões de gases de efeito estufa) foi considerada fraca e destituída de ambição. Os Planos de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento para o Pantanal e a Caatinga foram apresentados apenas em dezembro do ano passado, depois que os biomas foram castigados nos primeiros anos de governo. E ainda segue sem definição o imbróglio sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial.
Outro grande desafio para a realização da Conferência é de natureza logística. A infraestrutura urbana de Belém não comporta o evento, que vai receber mais de 50 mil pessoas. Os aluguéis de imóveis e hospedagem dispararam por causa da escassez de vagas. Para facilitar o tráfego na capital paraense, uma rodovia está sendo aberta em área de floresta protegida, sob críticas, pelo desmatamento e pelo impacto potencial produzidos sobre o ecossistema.
Embora o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP-30, tenha dito recentemente que a crise climática deve ser tratada como a emergência que representa, o governo Lula não vem dando ao evento e à pauta a prioridade necessária.