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Jornalista e comentarista de economia

Opinião | As ‘diretrizes’ do governo Lula

Documento prévio com diretrizes para criação de programa de um governo Lula apresenta pontas soltas e não conta com mecanismos para garantir o equilíbrio fiscal do País

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Foto do author Celso Ming

As diretrizes para o programa de um governo Lula (2023-2026) se caracterizam mais pelo que não dizem do que pelo que dizem. Nos seus pronunciamentos, Lula tem sido mais claro.

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Para começar, esse programa passa longe da contundência expressada em 2002 pela Carta ao Povo Brasileiro, quando o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentou suas principais intenções e avisou que “preservará o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e destrua a confiança”.

Essas diretrizes mencionam a necessidade de assegurar a responsabilidade fiscal, mas passam sinais contrários. Se eleito, o governo Lula revogará o teto dos gastos, mas não informa qual será a âncora fiscal.

Não importa se uma política econômica é neoliberal, social-democrata ou socialista. Não há como adotar um programa de governo sem equilíbrio fiscal, sem controle da inflação e sem fundamentos sólidos. No entanto, o programa sinaliza disparada das despesas públicas e multiplicação dos investimentos do Estado, enxurrada que tenderá a desarrumar tudo.

Chapa "Vamos juntos pelo Brasil" é encabeçada peloex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ex-governador e ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB). Foto:Paulo Guereta/Zimel Press/Estadão Conteúdo - 14/04/2022 Foto:

O documento avisa que será revogada a reforma trabalhista do governo Michel Temer (MDB), mas sem a volta do imposto sindical, que a reforma eliminou. Ou seja, nem tudo será revogado. Falta saber o que virá para o lugar do que for revogado.

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A política de preços dos combustíveis deixará o critério da paridade com o mercado internacional. O texto deixa a entender que passarão a ser controlados, levando-se em conta os custos de produção. Ora, custo qualquer um põe onde quer... Também acena com obrigar a Petrobras a importar combustíveis para completar a oferta interna, o que implica vender abaixo do custo e desmantelar a concorrência. No parágrafo 58 indica, ainda, que a Petrobras será obrigada a investir em refinarias, contra a determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de se desfazer de cinco delas

Nos pronunciamentos, o candidato Lula é mais explícito. Adverte que abaterá o regime atual de preços a canetada e, com outra canetada, definirá os novos preços. Ele que se prepare. Se assumir em janeiro, poderá enfrentar nova escalada de preços, quando caducará a “PEC do Diesel” que zerará os impostos.

Lula também vem afirmando que reverterá a privatização da Eletrobras. Seu governo será contra a privatização dos Correios e do Pré-Sal Petróleo.

O texto afirma que a desindustrialização será revertida, mas não diz como. Não há nenhuma menção sobre a necessidade de garantir novos acordos comerciais que se destinassem a abrir mercado externo para a indústria brasileira.

Diz que é necessária uma reforma tributária, mas nada diz sobre o projeto de substituição do ICMS pelo IVA a ser cobrado no destino. Também ignora a necessidade de reforma política e administrativa.

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Se o documento deveria ser um esboço para o debate, como está na abertura, faltam amarração e clareza para iniciá-lo. 

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA