A surpreendente decisão da agência de classificação de risco Moody’s de melhorar a nota de crédito do Brasil, de Ba2 para Ba1, e ainda cravar novo viés de alta, a um passo do grau de investimento, perdido em 2015, precisa ser avaliada com critérios fora da caixinha convencional.
A melhora da confiança na capacidade de pagamentos do Brasil significa melhora das condições fiscais, o que vem sendo fortemente questionado.
A Moody’s indica dois fatores que melhoraram a capacidade de pagamentos do Brasil: o forte crescimento econômico que, além de aumentar a arrecadação, reduz a proporção da dívida em relação ao PIB; e o impacto positivo das reformas sobre a produtividade em alguns setores da economia.
Alguns estudiosos já vinham chamando a atenção para mudanças estruturais que vinham passando despercebidas.
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Em artigo publicado nesta terça-feira, no jornal Valor Econômico, por exemplo, o economista Luiz Schymura, da Fundação Getulio Vargas, sugere que mudança estrutural importante é o forte crescimento do segmento de trabalhadores na ativa com formação superior. De 2012 a 2023, o número de pessoas ocupadas com ensino superior completo subiu de 12,6 milhões para 23,2 milhões. É fator a considerar. Mas há outros.
A reforma trabalhista do período Temer, mesmo limitada, reduziu a incerteza jurídica. A utilização crescente de tecnologia da informação e de tantos aplicativos novos só pode ter aumentado a produtividade do trabalho. Há nova mentalidade em formação a mudar muita coisa nas relações de trabalho, que é o espírito empreendedor e de formação de médias e microempresas, em parte impulsionado pela teologia da prosperidade, como já comentado neste espaço.
E, por último, mas não menos importante, é preciso prestar atenção à contribuição do agronegócio para o alastramento do setor de serviços. Não se trata apenas do crescimento do setor de transportes e de armazenamento, mas, também, os de assistência técnica, construção civil, computação, mecânica, treinamento, finanças, hotelaria, restaurantes e serviços pessoais (atendimento de saúde, cabeleireiros, manicures, etc).
Mais três observações. A nova promoção da qualidade da dívida do Brasil pela Moody’s não deve reduzir a percepção da gravidade da atual condição fiscal do Brasil. O rombo está sendo artificialmente achatado por medidas artificiais, como pelas tais “matemágicas fiscais”.
Parte do bom desempenho da economia neste ano não é recorrente. Deve-se às obras públicas e mais despesas eleitorais dos atuais prefeitos em busca da boa vontade do eleitor.
Convém esperar pelos ratings das outras agências de classificação de risco, como o da Fitch t e o da S&P, para conferir o veredito da Moody’s.
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