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Jornalista e comentarista de economia

Opinião | Depois da COP-28, as transformações

O mundo caminhou para a decisão política de substituir os combustíveis fósseis, mas ainda há muitas lacunas sobre como essa transição será realizada e financiada

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Para o que estava sendo desenhado, não deixou de ser surpreendente o resultado final da Cúpula do Clima da ONU, a COP-28, encerrada na última quarta-feira, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

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Mesmo contra o forte lobby do setor do petróleo, a decisão tomada por consenso por quase 200 países participantes foi a de começar a abandonar os combustíveis fósseis pelos combustíveis renováveis, o que sacramenta o objetivo do Acordo de Paris – que é restringir o aumento da temperatura média global entre 1,5 e 2 graus Celsius sobre os níveis anteriores à Revolução Industrial.

Um dos fatores que possibilitaram esse acordo foram os recordes de alta temperatura ao redor do mundo e a multiplicação de catástrofes, que vêm tomando o noticiário global e aumentaram as pressões sobre as autoridades para que algo seja feito.

As lacunas sobre a decisão tomada são enormes. Não se sabe quando a obrigação começará nem a intensidade com que será colocada em prática. Também não se estabeleceram as condições financeiras para isso nem eventuais punições para os que não cumprirem o acordo. Apesar desses pesares, é decisão grávida de consequências.

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Paradoxalmente, uma dessas consequências poderá ser o forte aumento dos investimentos em petróleo e gás, inclusive pelo Brasil - que se propõe a encabeçar essa transição energética –, porque será a última oportunidade para explorar riquezas que, dentro de poucas décadas, permanecerão enterradas.

Ministro da Indústria e Tecnologia dos Emirados Árabes Unidos e presidente da COP28, Sultão Ahmed Al Jaber, em plenário durante acordo de negociação, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática COP28 em Dubai, Emirados Árabes Unidos Foto: Amr Alfiky/Reuters

Será crescente o número de países que fecharão usinas termoelétricas a carvão e a óleo e que fixarão cronograma para determinar o fim das vendas de veículos a gasolina e diesel e, portanto, para o aumento das frotas de carros elétricos.

Como aumentará o consumo de energia para os veículos elétricos, será necessário multiplicar os investimentos em geração renovável, como energia eólica, energia solar e hidrogênio verde, de modo a triplicar sua capacidade de geração até 2030. Pelos cálculos, os investimentos nos países em desenvolvimento ficarão entre US$ 210 bilhões e US$ 380 bilhões por ano, até 2030.

No entanto, os investimentos na área estão aquém do esperado, principalmente no Brasil, que nos últimos cinco anos a cada R$ 1,00 investido em fontes renováveis, foram gastos R$ 5,60 em fósseis. Somente em 2022, foram destinados quase R$ 81 bilhões em subsídios para os combustíveis fósseis, segundo cálculos do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

As cidades ao redor do mundo, por sua vez, deverão providenciar redes de terminais de recarga. Não haverá saída para as montadoras senão desenvolver baterias mais eficientes, mais leves e mais baratas. Será inevitável criar sistemas de reciclagem dessas baterias. E, é claro, terão de ser desenvolvidos combustíveis limpos para aviões e navios.

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É a nova revolução energética, cujos desdobramentos não estão claros.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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