O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem perdendo apoio em segmentos importantes do eleitorado e isso pode ter impacto na condução da política econômica. Não se trata de desgaste natural, como acontece com qualquer chefe de governo, mas de aumento de rejeição permanente em faixas relevantes.
A mais notória é a dos evangélicos, que corresponde a aproximadamente 30% do eleitorado. Nada menos que 62% dessa faixa desaprova a atuação do atual governo, como acaba de mostrar a pesquisa recente da Genial/Quaest.
O movimento evangélico está ajudando a produzir uma importante guinada na mentalidade popular urbana. Orientada por pastores, bispos e apóstolos de quase todas as grandes igrejas, essa parcela da população já não aceita a subordinação a empregos à maneira antiga e à filiação aos sindicatos. Quer ser empreendedora e vê nessa postura novas oportunidades de ascensão, especialmente no setor de serviços, naturalmente com as bênçãos do Senhor. Essa nova ética protestante até agora não foi entendida pelas esquerdas brasileiras.
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Uma segunda faixa arraigadamente contrária ao presidente Lula e ao Partido dos Trabalhadores é a dos que circundam o setor do agronegócio: pequenos, médios e grandes agricultores, pecuaristas e toda a imensa área de serviços de apoio que opera no interior. Até recentemente, o PT não dava importância a essa área porque entendia, equivocadamente, que o agro gera pouco emprego. Agora se vê que essa gente pensa, trabalha e vota contra a linha convencional do PT, não só porque segue traumatizada pelo jogo invasor do MST e dos “exércitos do Stedile”, mas, também, porque rejeita a cartilha das esquerdas tradicionais.
Estas não conseguem digerir estas transformações em curso. Sentem que perdem capacidade de mobilização e pressionam o quanto podem o governo Lula para que abandone “pruridos neoliberais” voltados à responsabilidade fiscal e se atire a políticas de cunho populista, para que consigam evitar derrotas contundentes nas próximas eleições, as que lançarão as bases para a próxima campanha presidencial.
Até agora, o presidente Lula parecia convencido de que bastaria apresentar bons resultados na economia para virar marés adversas. Mas isso não está acontecendo. O PIB avançou 2,9% em 2023, a inflação e os juros vão mergulhando, o desemprego caiu aos níveis mais baixos desde 2014. Mas esses gols não vêm colando politicamente.
Falta saber se o governo Lula passará a atender alguns dos principais próceres petistas, como a presidente do partido, Gleisi Hoffmann; o deputado federal e vice-líder do governo no Congresso, Lindbergh Farias; e a primeira-dama Janja da Silva, e adotará políticas de gastança ou se ficará do lado dos moderados, especialmente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e se continuará a conduzir um política econômica mais conservadora, com base na preservação dos seus fundamentos.
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