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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Do rabo do cachorro ao mau hálito

Discursos e situações atemporais ainda dão conta de explicar o exercício do poder político e a arte de governar

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Foto do author Celso Ming

Em tempo de eleições, vale revisitar o que já diziam os antigos sobre o exercício do poder político e sobre a arte de governar. Tem aplicação para nossa época.

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O escritor grego Plutarco (46 a 120 d.C.) dedicou um livro de citações de chefes de governo e de comandantes de Forças Armadas, que passou a nossos tempos com o título latino de Plutarchi Moralia. Aqui vão algumas dessas citações.

Não Basta vencer. Alguém observou ao imperador de Roma César Augusto que, depois de conquistar o mundo aos 32 anos, Alexandre, o Grande, não sabia o que fazer. Augusto respondeu que havia, sim, muito a fazer, porque governar e organizar os povos sob domínio era tão importante quanto conquistá-los.

Despiste. Não foi o presidente Jair Bolsonaro que inventou a prática de criar fatos e temas controversos para desviar a atenção do assunto principal. O polêmico Alcibíades cortou o rabo de um cão magnífico que possuía. Questionado sobre a razão daquela loucura, ele respondeu: “Para que os atenienses passem o tempo falando sobre isso e não se ocupem de outro assunto”.

Propina e caráter. Calicrátidas era almirante incorruptível da frota espartana. Seus inimigos propuseram comprá-lo por 50 talentos, algo como um petrolão, na época. Um certo Cleandro apresentou-se a ele e disse: “Se fosse eu, aceitaria”. E Calicrátidas retrucou: “Eu também aceitaria se eu fosse tu”.

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O justo incomoda. Aristides não aceitava pressões políticas. Governou Atenas de acordo com a lei e sua consciência. Por isso, acumulou inimigos que manobraram para submetê-lo ao exílio. Tratava-se de uma consulta popular em que o nome do condenado era escrito numa casca de ostra, daí o termo ostracismo. Um analfabeto desconhecido encontrou Aristides no dia da votação e pediu-lhe que escrevesse o nome dele na ostra. Aristides perguntou-lhe por que o julgava digno de condenação. O outro disse que não conhecia Aristides, mas o que o irritava era ele ser chamado “o Justo”. Aristides não vacilou. Escreveu seu próprio nome na casca da ostra e a devolveu a ele para que fosse depositada na urna.

A ditadura e as críticas . Hierão I era tirano de Siracusa, cidade-Estado situada ao sul da Sicília. Foi excelente administrador, mas não tolerava críticas. Seu problema: um terrível mau hálito, que ninguém ousava apontar. Até que um subordinado se encheu de coragem e disse: “Meu rei, tens um hálito insuportável”. E Hierão: “Mas, como? Minha mulher nunca me disse isso”. Como tinha ouvido aquilo, ela respondeu: “Eu pensava que todos os homens tivessem esse cheiro...”. Até aqui vai a narrativa de Plutarco. Não ficou claro se a mulher de Hierão era mesmo fiel ao marido ou se, naquele tempo, os homens de Siracusa tinham mau hálito – porque ainda não havia sido inventada a escova de dentes.

Mas se vê que um mau hálito pode ser problema de estado, especialmente no trato de diplomatas, dignatários e mesmo de cidadãos locais.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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