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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|É preciso atacar os privilégios ou o Brasil não dará conta das aposentadorias futuras

Déficit da Previdência cresce a cada ano, com distorções e contribuições insuficientes, e falta de vontade política agrava mais ainda o problema

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Foto do author Celso Ming
Atualização:

O Brasil sofre de grave doença degenerativa de difícil reversão: o rombo gigantesco e crescente da Previdência Social.

Estudo recente do Banco Mundial calcula que, se nada de importante se fizer para mudar as coisas, o Brasil teria de exigir idade mínima de aposentadoria aos 72 anos, a partir de 2040, para manter a atual relação entre idosos e população ativa. O rombo previdenciário deve chegar ,neste ano, a R$ 326,2 bilhões (2,5% do PIB) e a R$ 722 bilhões, em 2040, como mostram projeções do Tesouro Nacional.

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Este continua sendo tema explosivo. Em maio, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, defendeu a desvinculação da Previdência do reajuste do salário mínimo, o que reduziria as aposentadorias e demais benefícios do sistema em relação ao que são hoje. Bastou a circulação da ideia para despencar avalanches de protestos e reclamações contra o governo, o que dá ideia das dificuldades políticas de uma reforma para valer.

No entanto, esperneio e gritaria não revertem o rombo nem suspendem as regras da atuária, a ciência que define os cálculos dos seguros e das aposentadorias futuras. Deixar tudo como está implica transferir uma bomba-relógio para as gerações futuras. Ou seja, se você já se sente prejudicado pelas condições atuais do sistema, imagine o que será para seus filhos, netos e bisnetos.

As reformas anteriores foram importantes, mas insuficientes. A causa do problemão não é apenas o aumento da expectativa de vida, que prolonga por mais tempo o pagamento das aposentadorias. Nem apenas a diminuição de filhos por mulher (índice de fecundidade), que vem reduzindo a reposição de mão de obra contribuinte para o INSS.

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É, também, o alastramento do tratamento privilegiado a beneficiários do sistema: excesso de Benefícios de Prestação Continuada (BPC), que paga salário mínimo a deficientes físicos; as vantagens para trabalhadores rurais, funcionários públicos, professores, militares, pensionistas; e outras distorções, como a deficitária contribuição dos Microempreendedores Individuais, num ambiente em que cresce o número de autônomos no mercado de trabalho.

O déficit do sistema é sempre transferido para o Tesouro – o que contribui para o déficit fiscal e para a transferência para o contribuinte comum do custo de um sistema ineficiente. O aumento do limite de idade para aposentadoria, hoje de 62 anos para as mulheres e de 65 anos para os homens, poderia ajudar a reduzir o déficit, mas não será solução cabal.

É preciso atacar os privilégios com firme vontade política. Quanto mais aumentar a degenerescência, mais difíceis e mais dolorosas as soluções.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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