As fontes de energia renováveis, especialmente eólica e solar, continuam se expandindo com força e intensidade.
Como apontam os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), dos mais de 7 gigawatts (GW) adicionados à capacidade instalada neste ano (metade da potência da Usina de Itaipu, a maior da América do Sul), cerca de 3,5 GW foram de fonte solar e 3,0 GW, de eólica. Cerca de 93 centrais solares fotovoltaicas e 90 eólicas foram incluídos ao sistema elétrico nacional nos oito primeiros meses do ano.
Juntas as fontes correspondem hoje por 23% da matriz de energia elétrica do País, cuja a potência fiscalizada, ou seja, a quantidade máxima de produção de energia soma 205,2 gigawatts (GW) até setembro.
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Esse crescimento da potência instalada acontece em meio a uma das maiores secas que o País já enfrentou, vem não só encarecendo a conta de luz, mas, também, pressionando o sistema, o que, por sua vez, acentua o risco de apagão nos próximos meses.
Outro grande destaque é a geração solar distribuída, modalidade em que os consumidores produzem a própria energia por meio de placas solares instaladas em telhados, coberturas de edifícios ou terrenos de condomínios. Avançou 5,89 GW no Brasil até setembro. Ao todo são 2,85 milhões de sistemas fotovoltaicos em funcionamento, com capacidade instalada total de 32,4 gigawatts.
No entanto, dado o excesso de oferta de energia que a demanda não acompanha, o Operador Nacional do Sistema, em consequência da limitação operacional da rede de transmissão, é obrigado a realizar cortes de carga na geração (constrained-off) que, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), gerou um desperdício acumulado de energia limpa de cerca de R$ 1 bilhão nos últimos dois anos.
Essas interrupções afetam as fontes intermitentes, aquelas que não podem gerar energia por restrições de recursos, como é o caso das usinas solares à noite ou em dia de chuva, ou das centrais eólicas, quando o vento é fraco. Essa intermitência causa variabilidade no sistema e acionamento de outras fontes, como as térmicas, de modo a garantir a segurança do fornecimento.
Em horário de maior demanda por energia elétrica, por exemplo, que se inicia a partir do início da noite quando a população retorna para as suas casas após o fim do horário comercial e começa a utilizar aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos, as usinas solares já não conseguem atender com a carga necessária, pois seu pico de geração é no período da tarde (quando há sol).
De todo o modo, o avanço das renováveis contribui para manter a matriz brasileira mais limpa em relação ao resto do mundo, fator de grande valia em tempos de transição energética e descarbonização da economia.
O País poderia utilizar essa vantagem competitiva para organizar o setor e se lançar como player para oferecer segurança energética no mercado internacional, mas o excesso de intervencionismo e de protecionismo atrasa o desenvolvimento.
A hora é de repensar a melhor forma de expandir a geração renovável, com foco no desenvolvimento da cadeia interna e fomento de novas tecnologias - como o hidrogênio verde e as baterias de armazenamento de energia elétrica -, que podem reduzir o problema da intermitência e aliviar a pressão sobre o sistema e os consumidores em tempos de crise. Em vez disso, o foco parece estar em distribuir subsídios diretos e indiretos que levam a expansão pelos os incentivos. Além disso, o cenário atual vem criando distorções no sistema elétrico e limitando os investimentos, que dificultam até a expansão do mercado, como se vê na atual crise do mercado eólico local.
A aprovação do marco legal do hidrogênio verde é passo importante para dar melhor direcionamento para essa sobrecarga de energia limpa. Mas ainda há um ambiente averso ao desenvolvimento de negócios e falta de regulação necessária para aproveitar os vastos investimentos disponíveis para a economia verde. O Projeto de Lei que regula a produção de energia em eólicas em alto-mar (offshore) segue parado no Senado depois de ter sido enxertado com jabutis pelos deputados.
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