EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Inadimplência e descuido dos bancos

A oferta predatória de crédito no sistema financeiro, na qual a distribuição de cartões de crédito sem a análise necessária tem ganhado força, vem contribuindo para o crescimento da inadimplência

PUBLICIDADE

Foto do author Celso Ming

No forte aumento da inadimplência (dívidas em atraso) no mercado de crédito estão, também, as digitais dos bancos, que vêm descuidando da administração de risco.

PUBLICIDADE

Na edição de domingo, esta Coluna destacou a disparada da inadimplência que, em 2023, atingiu 29,5% das famílias brasileiras, o maior desde 2010, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de bens, Serviços e Turismo (CNC).

É fator que enfraquece o consumo, derruba a produção e aumenta o custo do crédito. O governo Lula limita-se a criticar o Banco Central pela política monetária restritiva (juros altos) e a aplicar band-aid com o Programa Desenrola.

É preciso investir em longo prazo na educação financeira do consumidor para que administre melhor seu orçamento e aumentar a regulação no setor de crédito. Falta empenho do governo para inibir a oferta predatória de crédito por bancos, fintechs e comércio, que levam ao superendividamento.

Publicidade

Sobre essa chaga é preciso meter o dedo. O leitor Renato Maia chama a atenção sobre a facilidade com que se distribuem cartões de crédito e financiamentos automáticos.

Farra em distribuição de cartões de crédito pelas instituições financeiras precisa ser controlada.  Foto: Thiago Teixeira/Estadão

Hoje, os bancos abrem contas por telefone e já oferecem cartões sem a necessária análise. E o varejo não fica atrás: “Qualquer um consegue um cartão de crédito em grandes varejistas. Logo terá cartões cujos limites somados ultrapassam os R$ 50 mil”, adverte Renato Maia. Em seguida, vê-se o consumidor pagando cartão com outro cartão e com mais outro, ou pagando o mínimo da fatura com juros altíssimos que chegam a 440% ao ano.

O varejo expõe outro lado do mesmo fenômeno. As fraudes das Americanas mostraram que o endividamento do comércio pode chegar a níveis absurdos, sem que os bancos se apercebam do rombo geral, porque cada um desconhece o tamanho do crédito fornecido antes pelos outros bancos.

Uma espécie de pirâmide financeira acontece por obra das próprias instituições. Bancos tradicionais e digitais fazem propaganda para pagamento de boleto bancário com cartão de crédito, em dez parcelas. Ou, então, oferecem pagamento de Pix no crédito, mesmo conhecendo a propensão do brasileiro para se enrolar com os cartões.

Veja a manobra que dá para fazer com esse jogo, indica Renato Maia: “Tenho um cartão de crédito do Nubank que vence dia 10 de cada mês. Tenho outro no Itaú, que vence no dia 15, e faço um Pix no Nubank pelo cartão de crédito que só vencerá no dia 10. Ou seja, fico com esse dinheiro por 25 dias sem pagar juros nem IOF. É por esse jeitinho brasileiro que existem hoje 71 milhões de CPFs negativados no Serasa”.

Publicidade

E é também por essas e outras que a taxa de inadimplência média dos bancos nas operações de crédito subiu em 2023. Assim, os bancos precisam pressionar seus custos para garantir bilhões em provisões e dar cobertura a créditos duvidosos.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.