O Brasil tem larga experiência em combates fajutos à inflação. Já existiu (entre 1968 e 1985) a Comissão Interministerial de Preços, a CIP, mecanismo que pretendia fixar os preços pelos custos – que qualquer um põe onde quer. Teve a tentativa de controlar a inflação pela importação de feijão-preto do México (1969). Teve o episódio bisonho de caçar bois no pasto e o dos fiscais do Sarney (1986). Teve o confisco da poupança no Plano Collor (1990). E teve o tabelamento dos juros no período Dilma. Bolsonaro e Lula tomaram medidas artificiais para segurar a alta dos combustíveis.
Agora, o presidente Lula quer derrubar a alta dos alimentos por vias heterodoxas, no País que bate recorde após recorde nas safras de grãos.
A diferença é que, nos governos militares e mesmo depois, congelamentos e intervenções do tipo pretendiam obter resultados macroeconômicos, embora equivocados. Desta vez, o presidente Lula quer controlar os preços dos alimentos para reverter a forte rejeição da população a seu governo. Teme que a perda de apoio político derrube seus candidatos nas próximas eleições.
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Que há forte inflação dos alimentos, não há dúvida. O que é preciso perguntar é se a rejeição ao governo se deve, principalmente, à alta da comida, que tem como causa provável as adversidades climáticas. Há drástica polarização ideológica no País. A antiga capacidade de mobilização do PT, dos sindicatos e do exército do Stédile foi reduzida. O governo não tem estratégia clara de política econômica. Não sabe se controla o déficit ou se despeja mais recursos em programas sociais. E as macropolíticas apresentadas são confusas, como a Nova Indústria Brasil.
É equivocada a pretensão do governo de reverter a inflação dos alimentos com programas de redirecionamento de crédito. Se tiverem alguma eficácia, terão só a longo prazo. Mas o que há de mais assustador é essa insegurança que se abate sobre o presidente Lula e sobre o PT raiz, de que a economia conspira contra o futuro eleitoral das esquerdas no Brasil.
Não dá para afirmar que os resultados da economia sejam ruins. O PIB cresce pouco, embora mais do que há alguns anos; a inflação vai se encaminhando para a meta; o desemprego há muito não foi tão baixo; as contas externas estão uma beleza. Mas nada disso melhora a percepção do eleitor sobre as condições de vida. E não será mais uma intervenção suspeita nos preços que vai mudar essa falta de cola da economia nas pesquisas.
O risco aí é de que o desespero leve o governo a intensificar medidas de cunho populista-eleitoreiro que acabem por desarrumar de vez a economia.
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