Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a Selic pela 12ª vez consecutiva, agora em 0,5 ponto porcentual, para 13,75% ao ano. E sugeriu que na próxima reunião agendada para setembro voltará a apertar o volume de dinheiro. Pretende subir os juros em mais 0,25 ponto porcentual, para 14,0% ao ano. Diante das múltiplas incertezas pela frente, avisou que agirá com muita cautela.
Não há clareza sobre o calibre da recessão a ser enfrentada pela economia global. Os fluxos de produção e distribuição continuam conturbados pela nova onda de covid-19 na China e a guerra na Ucrânia. Isso vem aumentando as apostas na queda dos preços do petróleo e das matérias-primas. Mas a inflação atingiu, em junho, níveis inimagináveis, de 9,1% em 12 meses nos Estados Unidos e de 8,6% na zona do euro, situação que pode ter dinâmica própria e exigir mais aumento dos juros.
E há as coisas daqui. O Brasil poderá passar por período eleitoral conturbado; o equilíbrio das finanças públicas está sob ataque dos políticos; a atividade econômica, embora melhor do que a esperada há três meses, é insuficiente para corrigir a renda do consumidor. A inflação, hoje nos 11,8% em 12 meses, começa a ceder, mas continua alta.
Isso não é tudo. Outras áreas nebulosas deixam o setor produtivo e mais ainda o Banco Central sem chão firme onde pisar, e isso foi apenas insinuado no comunicado emitido logo após a reunião.
Políticas eleitoreiras adotadas pelo governo Bolsonaro, de impacto sobre os preços ou sobre as contas públicas, têm prazo de validade até 31 de dezembro, mas podem se tornar permanentes. Entre elas estão a redução a zero dos impostos federais (Cide e PIS-Cofins) sobre os combustíveis e gás de cozinha; ampliação de R$ 400 para R$ 600 do Auxílio Brasil; aumento de R$ 53 para R$ 120 do vale-gás; benefício de R$ 1 mil mensais para caminhoneiros; e auxílio gasolina de R$ 200 para taxistas e novos repasses e compensações por perda de arrecadação a Estados.
Não é possível saber o que acontecerá com todos esses valores a partir de 1º de janeiro nem tampouco seu impacto favorável ou não sobre a inflação. E não dá para prever qual será a política fiscal a ser adotada pelo novo governo.
O último Boletim Focus já mostra os efeitos dessas desonerações. A expectativa média para a inflação de 2022 cedeu pela quinta semana consecutiva, de 7,30% para 7,15%. Mas as projeções para 2023 continuam avançando.
E é por isso que o Banco Central seguirá pisando em ovos na sua política de juros destinada a puxar de volta a inflação para cumprir a meta de 3,25% em 2023 e de 3,0% em 2024, com tolerância de 1,5 ponto porcentual, para cima ou para baixo.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.