O presidente Luiz Inácio Lula da Silva insiste em que a economia está uma beleza, na foto e no filme, e que o único problema é a falha de comunicação do governo. São os ministros – disse ele na reunião de governo realizada na última quinta-feira – que não se empenham em divulgar ou são ineficazes na divulgação dos excelentes resultados da economia e, por isso, não espantam o mal-estar dos mercados e da mídia.
É inegável que há o que comemorar. A atividade econômica não chega a ser exuberante, mas o PIB vai embicando para avanços da ordem de 2,5% em 2024, o que não é pouca coisa. O desemprego deslizou para 6,9%, o menor nível desde 2014, o que ajuda a aumentar a renda do trabalhador. A área externa, principalmente a balança comercial (exportações menos importações), continua dando show e aponta para um superávit comercial de US$ 82 bilhões em 2024. E há o Investimento Direto no País que poderá chegar neste ano aos US$ 70 bilhões.
A inflação mostra leve escapada da meta, mas está sob controle e acumula 4,5% no período de 12 meses terminado em julho. Por mais que se denuncie a falta de confiança na política econômica, o CDS5 (Credit Default Swap de 5 anos), indicador do mercado financeiro que mede o tamanho do risco dos títulos do Brasil, mostra, em 12 meses, queda de 5,3%, portanto de mais confiança do investidor.
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O que não vai bem e dissemina incertezas é a administração das contas públicas. O rombo fiscal vai-se alargando, a dívida pública ameaça saltar para acima dos 80% do PIB e daí para o que for. Por mais que se esforce e puxe pelo aumento da arrecadação e pelo contingenciamento das despesas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não consegue passar firmeza sobre a observância do arcabouço fiscal, porque o governo é um “gastançólatra”.
E, se há um problema de comunicação do governo, o maior responsável por isso é o presidente Lula. É ele que vem repetindo afirmações de que a austeridade fiscal é jogo burro; que a política de juros do Banco Central é tudo de ruim; que é preciso torrar recursos da Petrobras em projetos furados, como na indústria naval e em investimentos em refinarias.
A puxada nas cotações do dólar, da ordem de 13% em 2024, tem muito a ver tanto com a deterioração das contas públicas como com a disseminação de incertezas provocadas pelas declarações do presidente Lula.
O principal objetivo estratégico do governo é chegar a outubro de 2026 em condições de obter excelentes resultados nas eleições. Para isso, tem de passar por outubro de 2024, quando se fincarão as bases para a etapa eleitoral seguinte.
Isso posto, se o presidente Lula realmente acredita em que seu principal problema se resume a questões de marketing e de comunicação, o risco é o de que tente ganhar a boa vontade do eleitor por meio do aumento da gastança e, portanto, do aumento das incertezas na área fiscal.
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