Em pouco mais de 12 meses, o preço do café moído saltou 50,3%. As safras foram menores aqui e no resto do mundo, o consumo só aumenta e os estoques estão baixos.
Mas por que o café, longe de ser produto de sobrevivência, ficou tão prioritário, a ponto de deixar o presidente Lula nervoso com a alta e derrubar seus índices de popularidade?
O café começou a ser usado como estimulante em tempos imemoriais, provavelmente no Iêmen, sul da Península Arábica – terra da rainha de Sabá, que cumulou o rei Salomão com presentes e dele teve um filho. Foi do Iêmen que se espalharam pelo mundo grande número de especiarias, como o cardamomo, e perfumes exóticos. O café se tornou mercadoria global a partir do século 16.
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Foi produto essencial no desenvolvimento do Brasil, a partir do século 19. Dom Pedro II o colocou no brasão e na bandeira do império, ao lado do tabaco. Depois da Abolição, os cafezais do Rio e de São Paulo continuaram a desempenhar papel importante e, a partir daí, ajudaram a construir grande parte do Brasil moderno.
O café permitiu a capitalização dos empreendedores brasileiros e concorreu para o início da industrialização. Foi, também, agente importante da grande crise dos anos 30 no Brasil, quando muitos cafeicultores tradicionais faliram. Ficou famosa a política de valorização do café do presidente Getúlio Vargas, que queimou 78 milhões de sacas, entre 1931 e 1944. Hoje, o café é a bebida mais consumida no Brasil, que também é o maior produtor e exportador do mundo
Ora, vejam, o pacífico café foi também revolucionário. Foi envolvido na deflagração do movimento de Independência dos Estados Unidos. Aconteceu em 1773, quando os revolucionários afundaram carregamentos de chá trazidos por cargueiros ingleses (Boston Tea Party). Desde então, os norte-americanos trocaram o chá, antes monopólio da coroa britânica, pelo café e ajudaram a estender mundo afora o mercado consumidor.

Seu papel hoje em toda parte deixou de alimentar revoluções e extrapolou suas funções meramente econômicas.
O escritor britânico Simon Sebag Montefiori relata em seu livro imperdível História do Mundo através das Famílias (tradução pela Companhia das Letras) que a principal contribuição do café passou a ser de atuar como agente de sociabilização nas cidades, por meio das cafeterias. O almirante otomano Frederico Barba-Ruiva (ou Barba-Roxa), conta Montefiori, foi dos primeiros a incorporar uma cafeteria à sua mansão. Nessas condições, o café desempenhou em escala global o que o chimarrão (no Rio Grande do Sul) e o mate (na Argentina e no Uruguai) desempenham apenas localmente.
O café se tornou obrigatório não apenas na primeira refeição do dia, mas passou a servir de intermediário para o início de qualquer conversa, para negociações políticas (como na Sala do Cafezinho no Congresso Nacional) ou, mesmo, para marcar um encontro: “Espero você lá em casa pra um cafezinho”.