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Jornalista e comentarista de economia

Opinião | O Carrefour e o complexo de vira-lata

A lição que fica é a de que o produtor brasileiro não pode mais assistir passivamente a essas atitudes neocolonialistas

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Foto do author Celso Ming

Foi um sucesso o boicote ao fornecimento de carnes à rede de supermercados Carrefour, depois que seu presidente global, Alexandre Bompard, anunciou que não compraria mais carnes provenientes de países do Mercosul, por falta de qualidade sanitária.

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O episódio mostrou que o brasileiro tem de se livrar de uma vez do seu complexo de vira-lata e enfrentar o jogo desleal de gente que defende o livre mercado só quando lhe interessa e o rejeita quando não tem capacidade de disputar o mercado dentro das regras do jogo.

O abastecimento do Grupo Carrefour aqui no Brasil ficou comprometido e, em dois dias, o presidente global do conglomerado tomou a iniciativa de se retratar, mas apenas em parte. Em parte porque desmentiu o que dissera de errado e de má-fé sobre a falta de qualidade do produto sul-americano, mas, para aplacar a ira dos pecuaristas franceses, manteve a decisão de revender em suas lojas apenas produto europeu.

É da França que provém o mais deslavado protecionismo e os vetos para o Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e União Europeia negociado desde 1999. Essa recusa atende aos interesses de sindicatos e produtores franceses, cuja atividade, embora altamente subsidiada, mostra enorme incapacidade competitiva.

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Nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem batalhando para a aprovação do acordo, fez uma afirmação contundente: “Que o agro brasileiro cause raiva em políticos franceses”. Lula referiu-se ao deputado direitista Vincent Trébuchet que não mostrou escrúpulos ao afirmar que “os pratos franceses não são lixeira” e que, por isso, não querem a carne do Mercosul.

O boicote aos supermercados Carrefour aqui no Brasil foi uma reação promovida pelo agronegócio, que contou com pronto apoio do governo Lula. Nisso os franceses conseguiram unir setores até agora antagônicos no Brasil, como os empresários do agro, políticos com assento no Congresso, várias tendências da esquerda brasileira, a opinião pública e o próprio governo Lula.

A principal lição que fica para o produtor brasileiro é a de que não pode mais assistir passivamente a essas atitudes neocolonialistas dos produtores, sindicalistas e políticos europeus.

Se insistirem nesse jogo desleal, o que a iniciativa privada brasileira (e do Mercosul) tem de fazer é parar de comprar produtos franceses: parar de comprar por aqui vinhos, queijos, cosméticos, produtos farmacêuticos (quando for possível), automóveis de marcas francesas e boicotar o varejo administrado por capitais franceses, como os dos Grupos Carrefour (Atacadão e Sam’s Club) e Cassino.

O Brasil escancarou para capitais franceses o que de melhor tem a oferecer, que é seu mercado interno, e, no entanto, como não têm capacidade de competir com o made in Mercosul, os produtores de lá, além de se recusar a importá-los, se dedicam a detratar sua qualidade e até mesmo apontar infrações ambientais onde não existem

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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