Desde o início do ano, as cotações do dólar no câmbio interno vêm subindo, às vezes mais devagar e às vezes mais depressa, dependendo do grau de nervosismo que percorre as mesas de câmbio do sistema financeiro.
Apesar de ter recuado cerca de 8% em 2023, neste ano, a alta acumulada é de 18%. O impacto interno é relevante, porque produz alta de preços nos bens importados e nos produzidos internamente, mas cotados em dólares, como petróleo e alimentos.
A cavalgada do dólar é um sintoma de que tem coisa desarrumada na economia... e não é pouca. Desta vez, a maior procura por moeda estrangeira nada tem a ver com a crise da dívida externa, como ocorreu nos anos 1970 e 1980. O Brasil detém US$ 372 bilhões em reservas externas, um bolsão de saúde financeira suficiente para, em princípio, desestimular especulações.
Também não se pode atribuir a alta a apenas um fator isolado, como o das incertezas provocadas pelas eleições nos Estados Unidos. A principal causa de avanço do câmbio tem a ver com as mazelas da economia interna, as de sempre, principalmente a falta de firmeza do governo Lula na condução das contas públicas, de maneira a assegurar o controle da dívida pública. Enquanto não se conhecer o prometido pacote de redução das despesas, os administradores de empresas e de projetos não terão clareza de horizonte na condução de seus negócios.
Há quem reivindique ação do Banco Central (BC). Quer que a autoridade monetária venda moeda estrangeira de suas reservas para saciar a fome de dólares e, assim, contribuir para o recuo das cotações.
O equívoco dessa proposta está em pretender que o BC atue apenas sobre sintomas, e não sobre as causas do problema. Se a causa é o rombo fiscal e o que vem junto, a escalada do dólar tem tudo para continuar, até que o rombo seja tapado. Nesse caso, uma intervenção do Banco Central no câmbio não passaria daquilo que o pessoal do interior chama de dar milho pra bode.
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No caso específico do fluxo de moeda estrangeira, cabe ao BC administrar o câmbio de modo a evitar solavancos na entrada e na saída de dólares. Se entra grande volume de capitais, o BC tem de intervir para evitar a derrubada anormal das cotações. E se uma empresa brasileira tem de remeter grande volume de dólares para honrar um pagamento, também cabe uma intervenção pontual para regularizar o fluxo.
Não dá para prever quando o câmbio interno voltará ao normal, porque falta saber qual a real disposição do governo de atacar o rombo fiscal. O que dá para dizer é que o presidente Lula tende a reagir mais rapidamente quando se trata de reverter disparadas do dólar, ou porque vê que o trabalhador terá de pagar a conta ou porque simplesmente tira voto.
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