A vitória avassaladora de Donald Trump nos Estados Unidos acumula grande concentração de poder. Desta vez, Executivo, Legislativo (Câmara dos Representantes e Senado), Suprema Corte mais a maioria dos governadores tenderão a executar a mesma partitura no governo dos Estados Unidos. É muito peso sem contrapeso.
Ficou fortalecida a mentalidade conservadora na execução da política econômica e nos costumes. A tendência é de aumento do protecionismo e, portanto, de aumento das tarifas de importação, a intensificação de pacotes anti-imigrantes e o adiamento e flexibilização de legislações ambientais. É um quadro que, em princípio, contrata mais inflação.
Devem, também, aumentar as pressões contra o forte protagonismo da China, hoje o principal mercado externo do Brasil e parceiro de investimentos em infraestrutura.
Leia também
Nesta quarta-feira, sem descer a particularidades, o Banco Central iniciou o comunicado da reunião do Copom com advertências para as incertezas que terão origem na condução da economia dos Estados Unidos, a partir de 20 de janeiro, sob controle do presidente Trump.
Nada indica que Trump venha a dedicar alguma importância especial às suas relações com o Brasil. Diante das novas prioridades, a atitude geral do futuro governo em relação ao Brasil parece pender para o desinteresse. Mas o ambiente geral tende a ser mais hostil ao governo Lula, cujo horizonte político são as eleições de 2026.
Daí por que se impõe a pergunta sobre qual será a política econômica a ser adotada para enfrentar uma síndrome de crescimento econômico mais baixo, inflação em alta e riscos de retomada do desemprego, num ambiente de fortalecimento das forças conservadoras de direita e de provável aumento da oposição no Congresso.
Mas há uma questão anterior a elucidar: até que ponto o presidente Lula e seu governo passaram a ter a percepção de que é preciso reverter um quadro básico de pessimismo e de falta de confiança, de maneira a pavimentar a questão sucessória?
A pergunta cabe porque sucessivas declarações do presidente são de que é preciso reforçar suas despesas orçamentárias destinadas ao atendimento das necessidades sociais. Ele parece pouco convencido de que terá de adotar políticas de austeridade fiscal. Um dos únicos indicadores capazes de levá-lo a agir em direção ao maior equilíbrio das contas públicas é a disparada das cotações do dólar, fator que, além de aumentar o custo de vida do trabalhador, cria instabilidade e desistência nos investimentos.
O presidente Lula está diante de duas escolhas básicas: ou dará prioridade a fortalecer os fundamentos da economia e a saúde das contas públicas e, sobre essas bases tratará com mais possibilidade de sucesso da tricotagem das alianças políticas; ou optará pela continuação da atual política populista e correrá o risco de chegar quebrado a 2026, com alta probabilidade de inviabilizar seu projeto político.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.