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Jornalista e comentarista de economia

Opinião | Petrobras: a última a produzir petróleo no mundo

Há uma grave contradição e indefinição no Brasil sobre a estratégia para realizar a transição energética que pode comprometer a vantagem competitiva que o País tem

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Foto do author Celso Ming
Atualização:

A Petrobras, agora setentona, pretende ser a última petroleira do mundo a produzir petróleo. É o que tem afirmado – e repetido – o atual presidente da empresa, Jean Paul Prates. Não é voz isolada. O presidente Lula também parece pensar assim.

A questão não é a de quem será o último a apagar a luz. Aí há uma contradição e, também, falta de estratégia para a transição energética. O Brasil quer liderar essa transição e ser grande produtor e exportador de energia limpa e renovável. Mas, ao mesmo tempo, quer aumentar a produção de petróleo – esgrimindo para isso o argumento de que as receitas do petróleo financiarão a transição. Mas essa posição mostra, também, grave indefinição estratégica, que não se restringe apenas à área energética.

A falta de horizontes empaca investimentos na produção de combustíveis renováveis, em fabricação de carros elétricos, na produção de baterias competitivas e no reequipamento das cidades aos novos meios de mobilidade.

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As pressões pela adoção de regimes de urgência não se dão agora apenas por questões científicas. Regiões inteiras do mundo estão pegando fogo e outras estão ameaçadas de submersão por enchentes e tempestades torrenciais. Esses efeitos cataclísmicos não geram apenas prejuízos e enormes despesas fiscais. Geram pressões geopolíticas para a adoção imediata de metas para descarbonização e abolição do consumo de combustíveis fósseis. As novas dificuldades para assinatura do acordo entre União Europeia e Mercosul e a cobrança de ação eficaz contra o desmatamento são indicações disso.

Falta de rumo nessa matéria gera consequências. O Brasil pode ficar ainda mais dependente do que é de tecnologias externas. E o atraso na tomada de providências e na preparação para os novos tempos pode gerar novos conflitos sociais.

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O carro elétrico tende a ser grande produtor de desemprego. O automóvel a combustão contém cerca de 2,4 mil peças. O elétrico pode não ter mais de 250. O impacto sobre os produtores de componentes será inevitável, como as últimas greves de trabalhadores do setor automotivo dos Estados Unidos estão demonstrando. E é preciso avaliar também o impacto sobre a rede de manutenção. A maioria das oficinas mecânicas ou desaparecerá ou terá de ser transformada em autoelétricas. É mais gente que será mandada para o olho da rua, como hoje acontece com bancários e comerciários.

Para não ter de apagar incêndios sociais, o País precisa ser preparado. O setor privado tem de saber qual é o cronograma a cumprir para orientar seus investimentos. Sem plano de longo prazo, não há como determinar essa preparação.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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