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Jornalista e comentarista de economia

Opinião | A política fiscal do governo Lula continua operando para os juros subirem no País

Com a popularidade em baixa, presidente Lula já deu sinais de que irá continuar a distribuir benesses, atuando na contramão do Banco Central

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Foto do author Celso Ming

Desta vez, ninguém esperava dos juros coisa diferente, porque já era caçapa cantada. O Copom aumentou os juros básicos (Selic) em 1 ponto porcentual para 14,25% ao ano, decisão tomada por unanimidade e que faz a Selic atingir o mesmo patamar registrado na crise econômica do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em agosto de 2016.

A intenção do Banco Central é aumentar os juros, em maio, “em menor magnitude”, que talvez seja 0,75 ponto porcentual (para 15,0% ao ano). Para as reuniões seguintes, não foram adiantados os passos (forward guidance). O Copom optou por esperar pelo comportamento futuro da inflação e da economia para, só então, tomar a decisão.

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Mas parece improvável que esses níveis de juros sejam suficientes para empurrar a inflação para a meta.

A política fiscal do governo Lula continua a operar na contramão do Banco Central. Injeta dinheiro na economia via gastança, enquanto o Banco Central trabalha para enxugar dinheiro do mercado.

Esse jogo contra não deve parar, porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deu indicações suficientes de que vai intensificar a distribuição de bondades financeiras para as classes médias e para a população de baixa renda, porque está mais interessado em ganhar a boa vontade do eleitor, numa conjuntura em que vai perdendo aprovação, do que com a solidez dos fundamentos da economia. O efeito é mais demanda não acompanhada por mais produção. Essa sinuca vai descrita com a linguagem técnica habitual, no comunicado do Copom.

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Ou seja, se a inflação tende a avançar porque o governo Lula não faz a sua parte, a probabilidade maior é de que o Banco Central terá de continuar a puxar pelos juros.

Outra fonte potencial de inflação, desta vez externa, está na política comercial protecionista adotada pelo presidente Donald Trump e nas medidas de reação a ela que vêm sendo tomadas pelos países parceiros. Falta saber como será a reação futura dos grandes bancos centrais. Nesta quarta-feira, depois de não mexer nos juros (fed funds), o Fed (banco central dos Estados Unidos) deu mostras de que continua esperando inflação, embora transitória, em consequência do aumento das tarifas aduaneiras.

Como das outras vezes, haverá chiadeira por aqui contra mais essa estocada da Selic. Vão dizer que essa quimioterapia envenena o doente e tira dele a vontade de enfrentar o câncer e tal. Mas é o que há. O Banco Central tem de defender a moeda.

Se é para ter um bode expiatório, o governo terá de encontrar outro e deixar de produzir descarrego sobre o Banco Central, como nos dois últimos anos, porque a maioria dos seus diretores está lá por escolha do presidente Lula.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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