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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Não dá para exigir juros baixos no Brasil com o atual nível de poupança e a dívida pública elevada

Os dois fatores convergem para manter o patamar elevados dos juros no País

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Na próxima quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltará a decidir sobre o patamar dos juros básicos (Selic), hoje nos 10,25% ao ano. Por conta dessa agenda já se pode prever para os próximos dias o aumento das reclamações de sempre: a de que os juros no Brasil são altos demais para uma economia que precisa crescer e criar empregos.

É indiscutível que esses juros sejam uma enormidade. Mas não dá para exigir que sejam mais baixos sem antes levar em conta as condições pelas quais são o que são.

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Para começar, é preciso entender que os juros são um dos dois preços do dinheiro. O outro é o câmbio, a cotação de uma moeda em relação a outra. Se não passa de um preço, não dá para discuti-lo sem levar em conta a velha e não revogada lei da oferta e da procura. Se o dinheiro é abundante, o juro é baixo; se é escasso, o juro é alto. No Brasil, são muitos os fatores que tornam o volume de moeda escasso no mercado e alto o seu preço. Mas fiquemos com apenas dois.

Um deles é o baixíssimo nível de poupança do brasileiro, que consome cerca de 85% do que produz. Sobram apenas 15% de sua renda, insuficientes para garantir crescimento sustentável do PIB de 3% ao ano. Para isso, seria necessária poupança de pelo menos 22% do PIB. Como a poupança é escassa, já temos aí uma das causas pelas quais o preço do capital não consumido é alto.

A outra grande causa do juro elevado é a dívida pública, alta demais para as condições de devedor do brasileiro. Se a dívida pública é alta, o Tesouro é o grande tomador de empréstimos num mercado de crédito escasso. Além de concorrer com os demais tomadores de empréstimos (porque não quebra), o Tesouro tem de pagar caro pelos títulos de dívida que despeja na praça.

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Ou seja, um dos importantes fatores do encarecimento do capital no Brasil é a desorganização das contas públicas ou a deterioração crônica e persistente da política fiscal. O Brasil não está entre os países cuja moeda tem status de reserva global. Quando a China precisa amontoar US$ 3,23 trilhões em reservas ou o Brasil, US$ 357 bilhões, China e Brasil estão aumentando a demanda por títulos (e moeda) dos países ricos, e, assim, derrubando seu preço. O Brasil carrega a marca de Caim, porque tem finanças públicas no vermelho e um currículo feito de calotes. Não está em condições de atrair demanda para sua moeda. Tem de amargar juros altos.

Pretender que o Banco Central derrube os juros a canetadas é contratar inflação, queda do investimento e brutal recessão, como aconteceu no período Dilma Rousseff, quando o presidente do Banco Central era o flácido Alexandre Tombini. l

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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