O presidente da Argentina, Javier Milei, completou dia 10 um ano de governo. Para surpresa dos céticos, vem entregando mais do que dele esperavam.
Quando candidato, apresentou-se como anarcoliberal. Ficou mais conhecido como “El loco”. Seu símbolo de campanha foi uma motosserra para mostrar que colocaria abaixo os políticos tradicionais, a ineficácia do Estado e a inflação.
Venceu as eleições com ampla vantagem e, uma vez instalado na Casa Rosada, despachou um pacotão de maldades conhecido como Lei Omnibus. Começou por desvalorizar substancialmente a moeda nacional para eliminar o câmbio artificial, tesourar em mais de 30% (5% do PIB) as despesas públicas, cortou ministérios, demitiu mais de 30 mil servidores e eliminou renúncias fiscais. O alcance do tal omnibus foi em parte esvaziado pelo Congresso, mas sem comprometer o plano de governo.
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O bombardeio de críticas proveio não apenas dos políticos peronistas e do resto da oposição. Proveio, também, de economistas respeitáveis que apontavam falta de uma âncora fiscal confiável que derrubasse o rombo, especialmente depois que o Congresso podou o pacote, e de ausência de apoio político que sustentasse a terapia de choque.
Faltou levar em conta que não só as elites, mas também a classe média estava exausta depois de anos de políticas populistas, da superdesvalorização da moeda, do achatamento artificial de preços e tarifas e da queda da atividade econômica e da renda.
O preço social e político foi alto. A pobreza extrema alcança cerca de 50% da população, o consumo despencou e muitas empresas quebraram.
Com apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), que aceitou a renegociação da dívida e despejou dinheiro novo, a política econômica armada com cirurgias e remédios amargos começa a produzir resultados e o início da virada.
A inflação, que alcançara os 25,5% ao mês na sua posse, caiu para 2,4% em novembro. O dólar paralelo, que por lá é conhecido pelo apelido de “blue”, cada vez mais tem se aproximado do câmbio oficial. O rombo fiscal deve reverter-se em superávit ainda em 2024, pela primeira vez em 16 anos.
O fortalecimento político veio a seguir. Milei começa a ser reconhecido não só na Argentina como também no exterior como uma espécie de reordenador do caos. Esse apoio lhe dará forças para aprofundar o ajuste. Para 2025, prometeu cortes em 90% dos impostos. Mas sua principal contribuição poderá ser a de aumentar a percepção de que qualquer política econômica eficaz começa com uma boa ficha de saúde das contas públicas.
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