Na política econômica, os 100 primeiros dias do Lula 3 ficaram devendo. O próprio Lula, na entrevista de quinta-feira, parece ter reconhecido que não saiu da estaca zero: “Depois do dia 10, vamos começar nova fase do governo, voltada para a economia”. Se vai começar, é porque não começou.
Depois que Roosevelt entendeu que os 100 primeiros dias de governo têm de ter impacto na economia, a cobrança é feita em todos os governos.
O presidente Lula fez uma avaliação errada, como se o mundo não tivesse mudado em 12 anos. Não parece ter entendido o impacto da pandemia de covid-19 sobre as cadeias de produção, nem a desaceleração do PIB da China, nem as transformações no mercado de trabalho. E foi logo desancando o Banco Central e o tamanho dos juros, embora tenha começado o Lula 1 em 2003 com os juros básicos nos 25% ao ano.
O governo aumentou as despesas sociais, mas Lula parece confuso quanto a qual segmento social atender. Sentiu que perdeu o eleitor da classe média, por isso favoreceu o dono de carro e desautorizou seu ministro da Fazenda quando manteve redução de impostos sobre a gasolina. Mas sabe que isso é pouco. Pretende controlar os preços da Petrobras e distribuir crédito favorecido para a compra de automóveis, o que não avança na solução dos problemas de fundo. Lula não acenou para a definição de uma política industrial e automobilística baseada no cumprimento do compromisso com as metas ambientais. O pequeno e o médio produtor do agro segue apavorado com as ameaças de invasão de terras e de taxação do produto.
Rejeitado o critério do teto de gastos, o arcabouço fiscal foi afinal anunciado, mas já se sabe que as metas de superávit fiscal não serão cumpridas. A reforma tributária precisa de mão firme do governo. Porém, Lula até agora não mostrou empenho na sua aprovação. Da reforma administrativa ninguém se lembra.
Lula sentiu o impacto dos aplicativos no mercado de trabalho, mas não sabe como lidar com isso. Repete que os motoboys precisam de proteção, mas deixa de fora milhões de outros trabalhadores alijados do mercado.
Embora tenha repetido que seu governo é plural, seu impulso é de rever tudo para os objetivos do velho PT. Mudou por decreto o Marco Regulatório do Saneamento para favorecer empresas públicas frágeis; empenha-se em mudar a Lei das Estatais para favorecer aliados políticos, parou de uma vez os processos de privatização e pretende reverter o que houve de modernização das leis trabalhistas.
Falta saber se o Congresso aceitará fazer esse jogo. Até agora não foi testado.
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