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Jornalista e comentarista de economia

Análise | O que há por trás da queda do desemprego no Brasil?

Desocupação encerrou o primeiro trimestre de 2024 com a menor taxa em 10 anos; números têm surpreendido o mercado, mas crise fiscal pode impactar na geração de vagas

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Atualização:

Quando o assunto é emprego, é inevitável o velho discurso do tipo copo meio cheio ou copo meio vazio. Nunca há plena satisfação. Ainda assim, o mercado de trabalho no Brasil continua surpreendendo.

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O desemprego encerrou o primeiro trimestre de 2024 em 7,9% da força de trabalho, número melhor do que o mercado vinha esperando. É também o nível mais baixo para o período desde 2014, aponta o IBGE.

Apesar do recuo da ocupação em relação ao trimestre anterior, em consequência do efeito sazonal da dispensa de trabalhadores temporários no fim do ano e do aumento da procura por emprego no início de cada ano, esse resultado indica certa resiliência do mercado de trabalho brasileiro.

Entre os fatores favoráveis estão a redução do contingente de desempregados, que neste início de 2024 foi 8,6% mais baixo em relação ao do mesmo período de 2023, com 808 mil pessoas a menos; e o crescimento de 36% na criação de vagas no mercado formal nos três primeiros meses deste ano, na comparação anual, como mostram os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta semana pelo Ministério do Trabalho.

O avanço da atividade econômica, por si só, é parte da explicação. Mas é necessário acrescentar o efeito da revolução pela qual passa o mercado de trabalho, que também vem contribuindo para a redução do desemprego. Ao mesmo tempo que substituem ou, mesmo, eliminam o trabalho humano, as novas tecnologias também criam ocupações. Fatores demográficos, certa flexibilização das relações de trabalho e a falta de mão de obra especializada nesta transição energética também dão cores novas a esse cenário.

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“Esses processos de transformação no mercado de trabalho contribuem para diminuição da taxa neutra de desemprego, aquela que não acelera a inflação, que se intensificou por aqui a partir da aprovação da reforma trabalhista. Isso ajuda a ilustrar porque temos um mercado de trabalho forte e um desemprego que pode cair ainda mais no curto prazo”, explica Cosmo Donato, economista da LCA Consultores.

Há quem argumente que parte da solidez do mercado de trabalho se deva ao aumento do processo de pejotização, aquele que contrata trabalhadores como pessoas jurídicas de modo a reduzir os custos trabalhistas. No entanto, como aponta a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Maria Andreia Lameiras, a atual esticada é impulsionada mais pelo emprego com carteira assinada do que pelo trabalho por conta própria via pessoa jurídica, que também está crescendo.

“O emprego CLT avança, com aumento da renda média real. Não há mágica, a economia brasileira apresenta bons resultados e isso impacta diretamente o mercado de trabalho.”

O rendimento médio das pessoas ocupadas avançou neste primeiro trimestre, chegando a R$ 3.123 - alta de 1,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 4,0% na comparação anual. Fator que também vem gerando surpresa entre os analistas.

Embora, pelo efeito do copo meio vazio, o governo Lula não comemore essa melhora, há questões internas e externas que podem derrubar esse ciclo. A revisão da meta fiscal, por exemplo, levanta dúvidas sobre o compromisso do governo com a saúde das contas públicas. E isso pode reduzir a contratação de pessoal.

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Análise por Celso Ming

Comentarista de Economia

Pablo Santana

Repórter da editoria de Economia, atua na Coluna do Celso Ming desde 2021. Formado pela Universidade Federal da Bahia, com extensão em Jornalismo Econômico realizada durante o 9º Curso Estado de Jornalismo Econômico.

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