O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, avaliou nesta segunda-feira, 23, que a interpretação que começou a se consolidar sobre os possíveis motivos da elevação dos juros nos Estados Unidos é menos benigna e mais estrutural.
Se a alta dos yields (rendimentos) dos títulos americanos tem causa estrutural, complementou o presidente do BC, fica a pergunta sobre em quanto tempo os juros seguirão mais altos.
As declarações foram dadas durante o evento “Reflexão sobre o cenário econômico brasileiro”, organizado pelo Estadão, com apoio do Broadcast, em parceria com o B3 Bora Investir, site de notícias e conteúdo educacional produzido pela Bolsa.
Nas últimas semanas, a percepção de que os juros nos EUA podem ficar mais altos por um período prolongado abriu um debate no Brasil sobre qual pode ser o tamanho do ciclo de corte de juros da Selic — atualmente em 12,75% ao ano.
“Está ficando mais claro uma interpretação menos benigna e mais estrutural. Em sendo estrutural, existe a pergunta: em quanto tempo os juros seguirão mais altos?”, comentou Campos Neto, ao abrir o evento na sede do Estadão. Ele disse ainda que espera mais uma alta dos juros nos Estados Unidos em dezembro.
Ao elencar as várias explicações da alta dos juros nos Estados Unidos, o presidente do BC citou, além do tema fiscal, as intervenções de moeda na China, a sazonalidade dos leilões de títulos no país, e a piora do risco país na maior economia do mundo.
No Brasil, os analistas consultados pelo relatório Focus projetam que a taxa básica de juros deve recuar a 9% no próximo ano, mas os últimos sinais da economia global têm levado parte dos economistas a rever essa projeção.
Na semana passada, por exemplo, o Citi aumentou de 9% para 10% a projeção para a Selic no fim do ciclo de cortes. Um dos fatores apontados pelo banco é a expectativa de juros globais mais altos.
Em entrevista ao Estadão, o chefe de pesquisa para América Latina do banco BNP Paribas, Gustavo Arruda, também reconheceu que a Selic pode ficar próxima do patamar de 10% se a economia dos EUA não desacelerar e permitir uma queda dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
“Temos um cenário base de 8,5% de juros no Brasil. Esse número pressupõe uma desaceleração da economia americana, uma percepção de que os juros americanos vão cair em algum momento”, afirmou Arruda. “Nos debates que fazemos dentro do banco, o cenário básico pressupõe uma desaceleração no primeiro e no segundo trimestres do ano que vem. Mas, conforme os dados vão saindo, a gente começa a se questionar se isso vai acontecer.”
Na análise do cenário externo, Campos Neto lembrou ainda que a China mudou o modelo de crescimento para inovação e consumo, ao invés de investimento e construção. “O próprio governo chinês disse que a mudança de modelo vai levar a um crescimento mais baixo”, assinalou.
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