Manobra do Centrão para ampliar orçamento secreto em 2022 é inconstitucional para técnicos do TCU

Parecer faz ajustes na Lei de Diretrizes Orçamentárias para abrir espaço no teto em 2022

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Foto do author Daniel  Weterman
Atualização:

BRASÍLIA - Manobra de contabilidade criativa incluída em projeto que será votado no Congresso para liberar emendas do orçamento secreto altera o entendimento sobre a forma de apuração do teto de gastos e pode ser considerada inconstitucional.

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Essa é a avaliação de técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da área econômica do governo ouvidos pelo Estadão, que falaram na condição de anonimato devido à sensibilidade política do projeto e os interesses que rondam a votação para liberar R$ 7,9 bilhões de emendas do orçamento secreto, esquema revelado pelo Estadão que consiste na transferência de verba a parlamentares sem critérios de transferência em troca de apoio político.

A percepção dos técnicos é a de que se trata de mais um “aviltamento” do Orçamento via lei. Um modo de alterar a Constituição Federal por meio de PLN, que são projetos que tratam de matéria orçamentária de iniciativa exclusiva do Poder Executivo.

O Estadão revelou na segunda-feira, 21, que lideranças do Congresso articularam a inclusão em projeto (PLN 39) de uma série de artifícios para abrir espaço no orçamento deste ano. A votação estava prevista para esta terça na Comissão Mista de Orçamento (CMO), mas foi adiada depois que esta reportagem publicou o alerta do TCU. Se aprovado, o projeto segue para apreciação pelo plenário do Congresso.

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As alterações foram incluídas pelo relator do projeto, deputado AJ Albuquerque (CE), do Progressista (PP), partido do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (AL). Os parlamentares têm pressa para garantir o aumento das despesas ainda este ano.

O parecer faz ajustes na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para abrir espaço no teto em 2022. Entre eles, não será preciso cancelar despesa para cumprir o limite do teto de gastos, se houver ajuste de caixa. Essa manobra permite “jogar” a despesa para o ano seguinte.

“Querem embarrigar a Lei Paulo Gustavo. Essa é a pedalada”, disse o líder do PT na CMO, deputado Enio Verri (PR). Nos bastidores, aliados do governo se movimentam para tentar voltar a proposta na quarta-feira, 23, mas ainda não é consenso.

A Lei Paulo Gustavo, da Cultura, também só terá limite aberto do que for gasto em 2022, e não o valor inteiro de R$ 3,86 bilhões. O parecer também altera o cronograma de despesa obrigatória para abrir espaço no teto. Essa mudança permite que o governo não empenhe (faça a primeira etapa do gasto, quando é feita a reserva do dinheiro para bancar a despesa) a despesa obrigatória (como salários e aposentadorias), e o saldo é usado como espaço no teto de gastos.

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O texto é muito técnico e o impacto no teto de gastos na maioria das vezes só é perceptível aos olhos de especialistas em orçamento muito tarimbados.

Congresso votará projeto para liberar emendas do orçamento secreto  Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Hoje, o governo tem R$ 10,5 bilhões de gastos bloqueados. Desse total, R$ 7,9 bilhões em emendas de relator foram bloqueadas pela equipe econômica para não furar em 2022 o teto de gastos, que atrela o crescimento das despesas à inflação.

Os líderes dos partidos pressionam pela liberação desses recursos que, na prática, como mostrou o Estadão, funcionam como moeda de troca nas negociações das votações e, sobretudo, nos acertos para a escolha dos futuros presidentes da Câmara e do Senado. A manobra tem apoio do Palácio do Planalto.

As lideranças têm pressa porque o governo anuncia nesta terça o último Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, que vai apontar o futuro do bloqueio até o fim do ano.

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Inicialmente, o projeto do governo ampliava o prazo para o envio de propostas de abertura de créditos adicionais para remanejar despesas do Orçamento de 2022. Esses créditos suplementares são comuns no fim de cada ano.

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