Se nenhum outro apartamento fosse construído e as vendas continuassem no ritmo atual, seriam necessários oito anos para vender todas as casas paradas em Luoyang, uma cidade de 7 milhões de habitantes no centro da China. A região é um ponto crítico da crise imobiliária do país, onde anos de construção excessiva transformaram distritos inteiros em cemitérios imobiliários. A cidade é marcada por extensos terrenos abandonados repletos de concreto e vidro.
A extensão do excesso de construções na China tem sido contestada há anos. Histórias de “cidades fantasmas” - distritos inteiros com casas não vendidas - começaram a ganhar as manchetes em 2010, seguidas de relatórios sobre como as áreas vazias estavam sendo preenchidas. Um ex-vice-chefe do departamento de estatísticas do governo disse no ano passado que toda a população da China poderia caber nas casas vazias do país. Alguns especialistas ainda argumentam que o número real é menor, mas analistas locais estimam que em julho havia 32 milhões de casas não vendidas; propriedades ociosas, ou aquelas que foram compradas como investimentos, mas não são habitadas, poderiam somar outros 49 milhões.
Uma coisa com a qual a maioria concorda é que a economia da China não pode ser recuperada sem antes resgatar o mercado imobiliário. Os líderes do país acreditam que a maneira mais fácil de fazer isso é se concentrar nos apartamentos ociosos.
Desde 24 de setembro, as autoridades anunciaram uma série de medidas para dar suporte à economia. O banco central alterou os termos de uma linha de crédito de 300 bilhões de yuans (US$ 42 bilhões), permitindo que os bancos comerciais refinanciem 100% dos empréstimos a empresas estatais, em vez de 60%, para permitir que essas estatais comprem apartamentos não vendidos e os transformem em moradias sociais.
Em uma reunião do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, prevista para 4 de novembro, os líderes poderão destinar 4 trilhões de yuans (US$ 561 bilhões) em títulos especiais que os governos locais poderão usar para comprar terrenos não utilizados e casas não vendidas nos próximos cinco anos, segundo a agência de notícias Reuters.
Ao visar as casas não vendidas, o governo acredita que pode resolver alguns dos problemas mais evidentes da economia. Com tantos apartamentos no mercado, as incorporadoras hesitam em iniciar novos projetos. Quando interrompem a construção, elas também param de alugar terrenos do governo - um choque para os governos locais altamente endividados, cuja principal fonte de receita é o aluguel de terrenos.
O excesso de casas também forçou as incorporadoras a reduzir os preços. Isso, por sua vez, minou a confiança das pessoas que, há pouco tempo, colocavam a maior parte de sua riqueza no mercado imobiliário, levando a um colapso dramático nas vendas. Calcula-se que os gastos com novas casas caíram mais de 16 trilhões de yuans (US$ 2,2 trilhões) em 2021 para cerca de metade desse valor este ano. Os analistas da S&P Global, uma agência de classificação de risco, foram sucintos: “Muito estoque, pouca confiança”.
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Fundos extras seriam bem-vindos em Luoyang. Há cinco anos, os complexos de apartamentos imponentes e esmagadoramente vazios em seu distrito de Yibin fizeram com que a área fosse rotulada como uma cidade fantasma. Agora há sinais de vida: alguns projetos novos foram totalmente vendidos no final de outubro. Mas a área ainda está desconfortavelmente vazia. Os agentes imobiliários dizem esperar que muitos apartamentos à venda acabem sendo mantidos pelas incorporadoras como garantia para empréstimos, em vez de se tornarem casas de família.
Desde que o governo mudou seu tom em relação à economia no final de setembro, houve sinais de que as coisas estão melhorando. As vendas de casas aumentaram durante um feriado recente. Algumas medidas, como taxas de hipoteca mais baixas e restrições de vendas mais brandas nas grandes cidades, provavelmente ajudaram a convencer as pessoas a comprar. Algumas cidades foram forçadas a flexibilizar os controles de preços, o que levou a quedas acentuadas nos valores. Quanto mais próximos estiverem das taxas reais de mercado, mais rapidamente ocorrerão as vendas.
No entanto, os analistas temem que o plano do governo não consiga consertar o mercado. Ele não se concentra o suficiente em apartamentos não concluídos pelos quais o pagamento já foi recebido, um cenário de pesadelo que afasta os compradores. As famílias estão esperando que mais de 20 milhões dessas casas sejam concluídas; as incorporadoras de muitas delas estão falidas. Ao mesmo tempo, as autoridades locais não parecem muito interessadas em comprar casas não vendidas. Dos 300 bilhões de yuans disponibilizados em maio, apenas 4% haviam sido usados até o final de junho. Espera-se que o custo do serviço das dívidas seja maior do que os retornos que as autoridades podem obter.
A corretora Tianfeng Securities calcula que custaria ao governo central 7 trilhões de yuans (US$ 982 bilhões) para comprar todos os apartamentos ociosos do país. Isso é muito mais do que o Estado parece estar disposto a gastar. Como consequência, cidades como Luoyang terão de lidar com moradias indesejadas por muitos anos.
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