TAIPEI, TAIWAN - Xi Jinping, o líder da China, e cerca de 370 outras autoridades do Partido Comunista estão se reunindo em Pequim esta semana, longe dos olhos do público, para analisar um plano destinado a tirar a segunda maior economia do mundo de seu momento de mal-estar.
Xi estará em um grande salão de conferências, no Jingxi Hotel, uma instituição de 60 anos com arquitetura em estilo soviético. É quase certo que os partidários leais a ele aclamarão seus planos durante a reunião de quatro dias com início nesta segunda-feira, 15, e considerarão uma proposta preliminar sobre “aprofundar ainda mais a reforma de forma abrangente”.
A mídia chinesa procurou criar um burburinho em torno dos planos de Xi, mas o verdadeiro teste pode vir mais tarde, à medida que qualquer mudança na política for filtrada pelas camadas do governo. O sucesso ou o fracasso dependerá, em grande parte, da capacidade de Xi de conquistar a confiança renovada da população chinesa, bem como dos investidores estrangeiros que recentemente ficaram desiludidos com suas políticas.
Nos últimos anos, as empresas e os consumidores da China sofreram com o crescimento instável, com o colapso do setor imobiliário e com o endividamento dos governos locais. Na manhã desta segunda-feira, a China divulgou dados que mostraram uma forte desaceleração do crescimento econômico. O PIB chinês cresceu 0,7% no segundo trimestre, uma redução em relação aos três primeiros meses do ano, quando a economia do país avançou 1,6%.
“Muitas incertezas alimentam o sentimento cauteloso dos consumidores e dos investidores”, disse Bert Hofman, ex-diretor do Banco Mundial para a China, em uma palestra este mês sobre a reunião. “Este é um momento em que a China precisa mostrar suas cartas.”
Os líderes do partido estão orquestrando o conclave - batizado de Terceira Plenária do Comitê Central - como um palco para promover o que Xi chama de crescimento de “alta qualidade”. Na história recente, as reuniões da Terceira Plenária, nomeadas pelo lugar que ocupam no ciclo de cinco anos de sessões do comitê, foram quando os líderes chineses, como Deng Xiaoping, despertaram o entusiasmo por suas metas de modernização.
A China tem muitas, muitas fábricas. E está construindo ainda mais
Há meses, os governos provinciais e os ministérios nacionais têm se apressado em anunciar como pretendem implementar o mais recente slogan econômico de Xi: aproveitar as “forças produtivas de nova qualidade” para obter um crescimento mais sustentável.
Na prática, isso significa construir fábricas. A China já produz quase um terço dos produtos manufaturados do mundo, mas está fazendo um esforço adicional. Entre seus planos, a China pretende implantar mais robôs e outros tipos de automação para compensar a escassez de trabalhadores dispostos a trabalhar nas fábricas.
Os setores de painéis solares, carros elétricos e baterias, todos favorecidos pelo governo atualmente, estão substituindo os antigos setores mais ligados ao setor imobiliário, incluindo a fabricação de aço e cimento.
Xi está falando sobre o setor privado. As empresas acreditarão nele?
Embora o entusiasmo de Xi pelo crescimento da alta tecnologia seja evidente, ele tem se mostrado ambivalente quanto ao papel das empresas estrangeiras e das próprias empresas privadas da China. Elas buscarão novos incentivos ou garantias quando a reunião do Comitê Central revelar as metas do partido.
“A verdadeira questão é até que ponto essa Plenária mudará o equilíbrio entre o Estado e o mercado”, disse Neil Thomas, membro do Asia Society Policy Institute. As repressões regulatórias prejudicaram os gigantes da tecnologia da China e outras empresas privadas, deixando os investidores em dúvida sobre se Xi via um lugar para eles em seus planos.
“Xi pode falar muito sobre como facilitar a vida dos investidores estrangeiros e das empresas privadas”, disse Thomas, “mas se eles não virem nada mudar na prática, será tudo em vão”.
O que será necessário para que os consumidores chineses comecem a gastar?
As esperanças de Xi de uma economia baseada em inteligência artificial e automação terão uma base instável, a menos que a China possa oferecer mais oportunidades aos trabalhadores e agricultores. Sem melhorias no bem-estar, na cobertura de saúde e no atendimento aos idosos, muitos chineses continuarão relutantes em gastar mais.
Os líderes da China reconheceram o problema do consumo há décadas. No entanto, apesar de todos os avanços econômicos do país, incluindo o recente impulso dos carros elétricos, muitas pessoas ganham e gastam pouco. Um dos resultados é que a China depende muito dos mercados estrangeiros para as vendas, gerando tensões com os países que absorvem a exportação.
Há vários anos, Xi prometeu dar prioridade à “prosperidade comum” - diminuindo a diferença de riqueza da China -, e o tema pode retornar na reunião desta semana. Zhang Bin, economista da Academia Chinesa de Ciências Sociais, escreveu recentemente que o governo deveria fazer da “promoção da justiça social” um pilar da política.
Mas as autoridades municipais, especialmente em grandes cidades como Pequim e Xangai, há muito tempo resistem a uma medida crucial que ajudaria a nivelar o campo social na China: derrubar as barreiras ao registro de domicílios, ou hukou, que dificultam que os migrantes rurais se estabeleçam permanentemente em muitas cidades, ou mesmo que os residentes urbanos se mudem entre as cidades.
Xi pode consertar o instável emaranhado fiscal da China?
O sucesso da China na construção de infraestrutura nas últimas três décadas foi sustentado por uma estrutura de financiamento que agora está perdendo força. Encontrar um substituto, em um país onde muitos são avessos a pagar impostos, é um dos maiores desafios do partido.
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Consertar o imbróglio fiscal não é fácil. Muitos chineses compraram imóveis, vendo-os como um dos poucos investimentos seguros disponíveis, e resistem à ideia de um imposto sobre a propriedade em nível nacional. Por enquanto, o Ministério da Fazenda tem ajudado os governos locais endividados a contrair mais empréstimos. As possibilidades de uma solução de longo prazo incluem o governo nacional compartilhar mais receitas de vários impostos, possivelmente incluindo taxas sobre a gasolina ou o tabaco.
É improvável que as ‘grandes expectativas’ de mudanças sejam atendidas
Quando a reunião terminar, na quinta-feira, a liderança do partido emitirá um comunicado resumindo suas decisões. Se as reuniões anteriores servirem de guia, quaisquer propostas detalhadas serão divulgadas apenas alguns dias depois.
Xi já esteve nessa posição antes. Ele iniciou um programa detalhado de reformas em uma Terceira Plenária em 2013, mas, de acordo com muitas medidas, as mudanças econômicas e sociais prometidas continuam incompletas. Desta vez, economistas experientes estão moderando as expectativas de grandes mudanças de rumo por parte de Xi.
“Muitas pessoas têm grandes expectativas em relação à Terceira Plenária, esperando outra onda de reformas e grandes mudanças”, disse Yao Yang, professor de economia da Universidade de Pequim, em um discurso para executivos chineses no mês passado. “Quero dizer a vocês que isso é apenas uma grande aposta.”
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