Em qualquer roda de conversa informal sobre o sufoco da população nos últimos tempos, o desemprego aparece como a preocupação número um, expressa na sensação de “logo pode ser comigo”. Mas não é a única. Quem tenta fazer um crediário ou tomar um empréstimo para cobrir um buraco no orçamento fica assustado com as taxas cobradas pelos bancos, e chega a duvidar das afirmações de que o juro é o menor da história. Da mesma forma, quem faz as contas dos aumentos explosivos em alguns serviços básicos, como luz e plano de saúde, também vê com ceticismo a inflação baixa, nos índices gerais.
Com tudo isso, é natural que os planos de zerar dívidas e voltar ao consumo fiquem cada vez mais distantes para muitas famílias, principalmente nas faixas de menor renda. Pois bem. Tanto as entrevistas dos candidatos à Presidência e seus assessores como o primeiro e morno debate entre oito deles, promovido pela TV Bandeirantes na quinta-feira, mostram que seus programas eleitorais e sua comunicação estão muito longe dos interesses concretos dos eleitores. Não se trata apenas de vocabulário fora do alcance do cidadão comum, como o economês dos “spreads e Selics” do tucano Geraldo Alckmin. Ou de promessas ambiciosas e genéricas, como o “vamos criar 2 milhões de empregos em um ano”, na boca de Ciro Gomes (PDT). Mas trata-se da falta de estratégias consistentes e específicas para dar resultados inclusive a curto prazo.
No caso do desemprego, por exemplo, para grande parte dos concorrentes a tendência é atrelar uma forte redução à melhora do quadro geral da economia – um trajeto que começa com corte de gastos, continua com retomada das reformas, aumento da confiança, volta dos investimentos. E finalmente ... mais empregos. Na mesma linha, a derrubada dos juros na ponta é vista como consequência da oferta de maiores garantias aos bancos, via, por exemplo, a propagação do tão falado cadastro positivo, ou de uma maior competição entre as instituições, com base na desregulação do setor. O que, se funcionar, ainda leva tempo.
O fato é que, apesar da lenta redução na taxa do desemprego, ainda há quase 13 milhões de pessoas sem ocupação e 37 milhões sem carteira assinada, à espera de uma oportunidade – um ano depois da entrada em vigor da reforma trabalhista, entronizada com o argumento de que ajudaria a formalização nas relações de trabalho, com base na possibilidade de assinatura de contratos mais flexíveis. E as expectativas das empresas para os próximos meses não inspiram ânimo. Segundo pesquisa da Fiesp, 77% das indústrias consultadas não têm intenção de ampliar o quadro de pessoal neste semestre – proporção semelhante às de 2016 e 2017, respectivamente 81% e 78%.
Em relação aos juros, as perspectivas também não são de grandes mudanças num horizonte próximo. A aposta que corre nos mercados, sem novas surpresas de Trump e sem choques políticos internos, é de uma taxa básica de 6,5% até o fim do ano – e, em consequência, de um ritmo ainda bastante lento na queda dos juros do dia a dia. Fica claro, portanto, que há um descompasso entre os anseios dos eleitores e os compromissos dos candidatos. No desemprego, nos juros e em outros quesitos. E, por isso mesmo, é considerável o risco de rápido desencanto com o futuro presidente.
A cautela dos candidatos faz sentido, especialmente diante da experiência frustrada, no governo Dilma, de concessão de benefícios a dezenas de setores selecionados, sem a contrapartida da manutenção dos empregos. E também diante da ilusão, no governo Temer, de que a derrubada da taxa básica de juros chegaria à vida real com a mesma velocidade da alta. Além disso, por mais criativos que sejam os formuladores dos programas econômicos dos candidatos, dificilmente terão condições de apresentar saídas rápidas e efetivas para animar o mercado de trabalho, derrubar os juros e reavivar o consumo. A não ser que sejam abertas as torneiras do gasto público. E aí as coisas se complicam. Pelo menos para quem não tem o mesmo poder do Judiciário de se conceder aumentos salariais generosos, sem levar em conta seus efeitos. No desarranjo das contas públicas e no agravamento das desigualdades. CIDA DAMASCO É JORNALISTA
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