Análise | Cinco grandes questões que ainda precisam ser respondidas pelo Banco Central americano

Federal Reserve realiza nesta semana sua conferência econômica anual, em Jackson Hole, em meio à expectativa sobre o início dos cortes de juros nos EUA

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Por Bill Dudley

Quando o presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), Jerome Powell, falar na conferência econômica anual desta semana (entre os dias 22 e 24) em Jackson Hole, Wyoming, as pessoas estarão atentas a qualquer indício sobre o que o banco fará com as taxas de juros em sua reunião de setembro.

Provavelmente, elas ficarão desapontadas. Ainda assim, há muitas questões cruciais sobre o futuro da política monetária que as autoridades do Fed podem e devem abordar.

Jerome Powell, presidente do Fed, deve fazer pronunciamento em Jackson Hole na sexta-feira Foto: Jose Luis Magana/AP

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Espero que Powell enfatize o progresso que o Fed fez em direção a suas metas duplas de estabilidade de preços (definida como uma inflação de 2%) e emprego máximo sustentável. Ele provavelmente observará que os dois estão mais equilibrados, o que implica que não se justifica mais uma política monetária restritiva. No entanto, eu ficaria surpreso se ele oferecesse qualquer indicação do tamanho do primeiro corte na taxa de juros, que é quase certo que ocorrerá em setembro. Isso anteciparia desnecessariamente a decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Federal Open Market Committee), que terá mais dados — incluindo outro relatório de empregos — para considerar até lá.

As autoridades do Fed também podem refletir sobre alguns temas importantes dos últimos anos. Eles devem ser gratos, por exemplo, pelo fato de as expectativas de inflação das pessoas terem permanecido bem ancoradas durante a pandemia, embora o Fed tenha sido lento na resposta ao aumento da inflação real. Além disso, eles poderiam considerar o efeito das comunicações do Fed sobre a economia: a velocidade com que os mercados financeiros respondem aos pronunciamentos do Banco Central sugere que as defasagens da política monetária podem ser mais curtas e menos variáveis do que eram quando ela era menos transparente.

Olhando para o futuro, estou mais interessado em saber como o Fed pode mudar a forma de conduzir a política monetária. Aqui estão cinco perguntas que me vêm à mente:

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A política monetária deveria ser mais preventiva?

O Fed cometeu um erro durante a pandemia ao se comprometer a manter as taxas de curto prazo próximas de zero até que a economia fosse considerada em pleno emprego e a inflação tivesse subido acima de 2% e se esperasse que permanecesse assim por algum tempo. Isso significou que a política monetária permaneceu muito flexível mesmo quando o mercado de trabalho estava muito apertado e os preços estavam subindo. É melhor começar a remover o estímulo monetário mais cedo, para atingir a neutralidade, ao mesmo tempo em que a economia atinge o pleno emprego e o objetivo de inflação do Fed. Chegar tarde significa que a política monetária deve se tornar restritiva, aumentando desnecessariamente os riscos de recessão.

A meta de inflação deveria ser mais alta?

Alguns querem aumentar a meta de inflação do Fed — digamos, de 2% para 3% — para que o banco tenha mais espaço para cortar as taxas de juros antes de atingir o limite inferior zero. Essa é uma má ideia. Mudar a meta colocaria em risco a estabilidade das expectativas de inflação que se mostrou tão importante durante a pandemia: se o Fed mudar a meta uma vez, as pessoas podem razoavelmente se preocupar que ele fará isso novamente. Além disso, o Fed pode não precisar de mais espaço. Se a taxa de juros neutra (aquela que não acelera nem desacelera o crescimento econômico) tiver aumentado, como geralmente se acredita, isso deixará mais espaço na faixa onde as taxas normalmente estarão e zero.

O Fed deveria mudar a meta de inflação para uma faixa de tolerância?

Uma faixa de 1,5% a 2,5% poderia ser uma boa ideia. Ela reconhece explicitamente que o Fed não pode controlar a inflação com precisão e permite que o banco diferencie entre desvios pequenos e sem importância e aqueles que exigem uma resposta da política monetária.

Como e quando o Fed deve se envolver nas compras de ativos conhecidas como flexibilização quantitativa?

O Fed não tem uma estrutura bem definida para avaliar os custos e benefícios da flexibilização quantitativa (’quantitative easing’, ou QE, quando um Banco Central compra títulos públicos e privados para aumentar o dinheiro em circulação na economia). A prática afeta os ganhos e as remessas do Fed para o Tesouro, conforme evidenciado pelo buraco de US$ 188 bilhões (e ainda em expansão) no balanço patrimonial do banco central. As autoridades devem prestar mais atenção a esses custos e considerar quando eles podem justificar o encerramento de um programa de QE com benefícios cada vez menores.

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O Fed deve parar de estabelecer como meta a taxa dos fundos federais?

Ao definir as taxas de juros, o Fed há muito tempo se concentra no mercado de fundos federais (os fed funds), onde os bancos dos EUA emprestam dinheiro uns aos outros. Isso não faz mais sentido. O mercado se tornou menor, cada vez mais idiossincrático, e o Fed teve de apresentar soluções — notadamente seu mecanismo de recompra reversa overnight — para garantir que a taxa de fundos federais não caísse abaixo do limite inferior de sua faixa de meta. Em vez disso, o Fed deveria simplesmente usar a taxa de juros que estabelece sobre as reservas bancárias como referência para outras taxas do mercado monetário.

Se as autoridades do Fed não abordarem essas questões publicamente em Jackson Hole, elas certamente receberão muita atenção nos bastidores - e na revisão da estrutura da política monetária do Fed, programada para ser concluída em 2025.

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

Análise por Bill Dudley

Colunista da Bloomberg Opinion, foi presidente do Federal Reserve Bank de Nova York de 2009 a 2018. É o presidente do Comitê de Bretton Woods e diretor não executivo do banco suíço UBS desde 2019

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