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Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião | Situação econômica da China e aperto monetário nos EUA devem atrapalhar economia brasileira em 2024

A provável redução de crescimento da China tende a enfraquecer a demanda por commodities do Brasil

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Há dois riscos externos que tendem a atrapalhar a economia brasileira em 2024: o primeiro, e que me parece mais sério, é a difícil situação econômica da China.

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Há uma crise imobiliária grave naquele país. Os números do setor são preocupantes. O valor das vendas de imóveis caiu cerca de 20% nos últimos dois anos. A área construída de novas habitações desabou 58% no período 2019-2023. A inadimplência, que levou à liquidação da maior incorporadora chinesa, a Evergrande, continua crescendo.

Dada a importância do setor imobiliário no PIB da China, essa crise tende a contaminar toda a economia, pela destruição de empregos, instabilidade financeira e deterioração de expectativas. O pior é que o governo chinês vem lidando mal com essa situação. Os estímulos para evitar o pior têm sido tímidos, uma vez que Xi Jinping teme realimentar uma bolha, o que é compreensível, mas, ao mesmo tempo, fecha a válvula de escape que costumeiramente era aberta em situações semelhantes, ainda que menos graves, no passado.

Condomínio residencial inacabado desenvolvido pelo grupo China Evergrande nos arredores de Shijiazhuang, província de Hebei, China, em 1 de fevereiro de 2024  Foto: Tingshu Wang / REUTERS

E os problemas da China não param por aí. O país está em deflação e seu principal índice de ações, Shanghai Composite, apesar das intervenções do governo, caiu 13% nos últimos 12 meses e 20% nos últimos 2 anos.

Os dados aqui citados são como um termômetro, apenas medem a temperatura da crise. Sua verdadeira causa parece ser a visão de Xi Jinping de que ele próprio e o Partido Comunista devem aumentar seu controle sobre a economia. Vide, por exemplo, o endurecimento das regras sobre o setor de tecnologia, que tem afugentado investidores externos.

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A provável redução drástica da taxa de crescimento da economia chinesa tende a enfraquecer a demanda por commodities exportadas pelo Brasil.

O segundo risco é a possível necessidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) manter o aperto monetário por mais tempo do que o esperado pelo mercado. Uma amostra do estrago que isso pode provocar nos foi dada no início da semana passada, quando o Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos ficou um pouco acima das expectativas. Nesse caso, sou um pouco menos pessimista, pois tendo a crer que a inflação por lá está controlada. Mas não descarto a possibilidade de eu estar errado.

Tudo o mais constante, se um ou ambos os riscos citados se concretizarem, o Brasil será afetado principalmente pela depreciação do real, seja em função da queda do preço das commodities, seja pela redução do diferencial entre a taxa de juros interna e a externa. O efeito líquido disso é redução do crescimento e mais inflação.

A missão de enfrentar um quadro como o acima descrito não poderá ficar apenas a cargo do Banco Central. É essencial que Executivo e Legislativo façam sua parte, seja praticando uma política fiscal responsável, seja avançando nas reformas estruturais.

Opinião por Claudio Adilson Gonçalez

Economista e diretor-presidente da MCM Consultores, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

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