Nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro foram aprovadas algumas medidas estruturantes para a economia brasileira, com destaque para as reformas da Previdência e a trabalhista, o Marco Legal do Saneamento e a autonomia administrativa do Banco Central.
Nos últimos quatro anos os economistas vêm subestimando o crescimento do PIB de forma sistemática e expressiva. Alguns atribuem isso a não consideração nas projeções dos efeitos positivos dessas reformas, o que não me parece correto. Reformas afetam a capacidade de crescimento a médio e longo prazo, na medida em que elevam o PIB potencial, não necessariamente o observado.
Todas as estimativas de evolução do PIB potencial que consultei, elaboradas por economistas e instituições de pesquisa de alta qualificação técnica, mostram crescimento pífio da capacidade de crescimento da economia brasileira desde o primeiro trimestre de 2015 até o segundo trimestre de 2023. As exceções foram alguns poucos trimestres de recuperação após o fundo do poço atingido no início da pandemia.
Será que a melhora de expectativas, decorrente da aprovação das reformas, não teria antecipado seus efeitos sobre o crescimento? Se levarmos em conta as pesquisas de confiança de empresários e consumidores, bem como projeções da tendência de crescimento a médio prazo do Brasil feitas anualmente pelo FMI, a resposta é não.
Além do mais, as estimativas que mencionei mostram também que a economia brasileira operou com ociosidade na utilização de seus recursos produtivos (em economês, hiato do produto negativo), desde o segundo trimestre de 2015 até o quarto trimestre de 2022. Assim, a pífia recuperação observada nos três anos que se seguiram à recessão do período Dilma parece ser decorrente mais de escassez de demanda do que de entraves estruturais. Isso porque a consolidação fiscal do governo Temer somou-se à política monetária restritiva praticada em 2017-2018.
O Banco Central intensificou a redução da taxa básica de juro em 2019 e 2020. Mesmo antes da pandemia, a Selic já estava em 4,25% ao ano, tendo chegado a 2%, em agosto de 2020. Do lado fiscal, as medidas de suporte às famílias e às empresas, quando a covid já era uma realidade, reforçaram ainda mais a recuperação da demanda agregada.
As demais “surpresas” parecem facilmente explicáveis pelos efeitos diretos e indiretos do espetacular crescimento da renda gerada nos setores agropecuário e de petróleo, desde 2021 até agora. Segundo estimativas do meu colega de consultoria Bráulio Borges, a renda desses segmentos atualmente é mais que o dobro, em termos reais, da observada durante o superciclo de commodities de 1999 a 2011.
No entanto, continuar crescendo apenas com estímulos de demanda será mais difícil. A baixa taxa de desocupação da mão de obra e outros indicadores sugerem que a economia brasileira já opera em pleno emprego.
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