Que o aquecimento global está mudando nossas vidas para piorar, fica mais evidente a cada dia. Temperaturas máximas acima de 40ºC antes do verão, chuva em excesso ou seca, ciclones extratropicais, desabamento de encostas têm comprovado isso. Mas os eventos climáticos extremos também vão modificar muito o mercado de consumo, para que possamos sofrer um pouco menos com os efeitos climáticos.
Uma das mudanças é sobre o conceito de luxo ou supérfluo. Um aparelho de ar-condicionado, atualmente, é artigo de primeiríssima necessidade em quase todo o território nacional. Além disso, casas e apartamentos terão de ser construídos, como era no passado, com pés direitos bem mais altos, para que haja circulação interna de ar, refrescando o ambiente.
As construções terão, além disso, de ser muito mais seguras, para evitar goteiras, alagamentos e danos provocados por vendavais. Palafitas, edificações em regiões alagadiças sobre pilares, são ameaçadas por períodos de chuvas intensas. E podem ficar isoladas em secas severas, impedindo a navegação, ou seja, o transporte dos moradores da região.Se antes já não era recomendável morar em encostas, o risco aumentou muito mais. E talvez seja necessário utilizar as tecnologias empregadas na Holanda - moinhos de vento e diques - em cidades litorâneas.No campo do vestuário, milhões de brasileiros já perceberam que agasalhos mais pesados são quase desnecessários, devido às ilhas de calor. Para os mais raros dias frios, serão mais úteis roupas que possam ser retiradas quando a temperatura subir rapidamente, mesmo em meio ao inverno.
A exemplo dos lares, escritórios e indústrias, transporte sem ar-condicionado é uma tortura para passageiros e motoristas. Ar-condicionado automotivo não é mais acessório, e sim item fundamental.
Talvez as enchentes que se alternam com secas tragam de volta as galochas, calçados de borracha que protegiam os sapatos do contato com a água e a umidade. Certamente, a indústria farmacêutica está desenvolvendo medicamentos para combater sequelas provocadas pelo calor excessivo.
E as lojas, supermercados, farmácias, escolas e outros estabelecimentos comerciais, de ensino e de lazer terão de contar com água abundante e fresca (não aqueles tímidos bebedouros), mais cadeiras e ambiente ventilado.
Seria bem melhor que tivéssemos agido para evitar o superaquecimento, mas agora já se trata de uma triste realidade. Teremos de nos adaptar a isso, e consumidor vai precisar cada vez mais de produtos e serviços voltados para reduzir o desconforto ambiental.
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