Um grupo de empresários brasileiros se debruça, desde o início do ano, sobre os principais desafios econômicos contemporâneos com uma missão: influenciar os debates que o governo brasileiro e os países do G-20 terão em novembro, no Rio de Janeiro, na cúpula de líderes do fórum das maiores economias do mundo. O Estadão publica, a partir desta segunda-feira, 14, uma série de nove entrevistas com os CEOs e executivos que estiveram à frente das forças-tarefa do grupo empresarial. Três eixos atravessam a avaliação do setor privado em praticamente todas as entrevistas: a transição energética e crise climática, a necessidade de inclusão da mulher em patamar igual ao dos homens nos negócios e as discussões trazidas pela inteligência artificial.
Os três assuntos são dominantes não apenas nos grupos que analisaram especificamente estes temas, mas também nos debates sobre finanças, comércio global e educação, por exemplo. “O Brasil tem uma oportunidade única e deve usar o B-20, o G-20, a COP como instrumentos de inserção na geopolítica global. O Brasil deveria se colocar numa posição de ser um ator relevante, principalmente na questão ambiental, onde podemos fazer uma grande transformação”, afirma o conselheiro da Suzano Walter Schalka, na primeira entrevista da série.
O B-20 congrega empresários dos diferentes países ligados ao G-20. São mais de 1,2 mil representantes do setor privado de mais de 40 países, que fazem um diagnóstico dos desafios comuns e recomendações aos governos sobre o que, na visão do empresariado, deve ser prioritariamente debatido no G-20. Neste ano, com o Brasil na presidência do G-20, a coordenação do B-20 ficou a cargo da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A proposta do B-20 é organizar a visão do setor privado brasileiro. Um documento com o resumo das principais recomendações do empresariado foi levado pessoalmente ao presidente Lula, que ouviu os empresários durante encontro de cerca de três horas, no Palácio do Planalto. Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Casa Civil, Rui Costa, estavam presentes, além do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Entre as recomendações está, por exemplo, a revisão da restrição comercial imposta por países do G-20 nos últimos três anos e “promoção de metodologias aceitas internacionalmente para cálculo e prestação de contas sobre a pegada de carbono de produtos, além de viabilizar boas práticas regulatórias e taxonomias para instituições que queiram promover a sustentabilidade ambiental”. Os países do G-20 respondem por 75% do fluxo de comércio global. Uma das discussões presentes no fórum é a conciliação dos parâmetros de sustentabilidade com as diretrizes de comércio.
Algumas áreas do governo já têm absorvido o conteúdo do setor privado em seus documentos preparados para o encontro de chefes de Estado do G-20, que acontecerá nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro. É o caso do debate sobre sistemas alimentares. O trabalho do B-20, sob a coordenação neste ano, do Brasil, foi também simplificar e reduzir o número de recomendações aos governos. Cada grupo fez apenas três recomendações, com duas políticas de ação sugeridas para cada. O intuito é conseguir tornar mais efetivo o debate, antes considerado muito prolixo.
“No fim do dia, os principais eixos acabam sendo, de uma forma ou de outra a descarbonização, que é um tema essencial, com um capítulo só dele nessa força-tarefa de transição energética. A questão da segurança alimentar é uma questão chave também, porque você trata de como mitigar as fraquezas sociais, miséria e a fome que são assuntos cruciais. Temos o tema da digitalização com inteligência artificial, que é algo mandatório para o avanço da competitividade (dos negócios) e até na qualidade de vida das pessoas”, afirma o empresário Dan Ioschpe, chair do B-20 Brasil e vice-presidente da Fiesp.
O governo Lula estabeleceu três eixos de trabalho para o G-20 deste ano: combate à fome e à pobreza, desenvolvimento sustentável e transição energética e a reforma de organismos de governança internacional. Os dois primeiros aparecem com mais força nos documentos do B-20. A questão dos organismos multilaterais, no entanto, não é parte central das discussões. Haddad também tem defendido que o G-20 precisa avançar sobre a taxação de super ricos, um tema que não entrou na pauta do empresariado.
O empresário Walter Schalka, conselheiro da Suzano, ficou à frente do debate sobre Educação e Emprego. Luciana Ribeiro, fundadora da EB Capital, abordou a questão das finanças. Fernando de Rizzo, CEO Tupy, se debruçou sobre transição digital. Já Ricardo Mussa, CEO da Raízen, aborda o tema da Transição Energética e Clima. Gilberto Tomazoni, CEO da JBS, discutiu os Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura. Paula Belizzia, VP Latam da AWS (Amazon Web Services) ficou responsável por recomendar políticas sobre Mulheres e Diversidade. Francisco G. Neto, CEO da Embraer, tratou de comércio global e Claudia Sender(conselheira da Embraer e da Gerdau), de integridade. Ioschpe coordenou os trabalhos do fórum, como chair, com apoio de Constanza Negri, da CNI, que ficou na função de sherpa do B-20.
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A Cúpula do G-20 (grupo dos 20) reúne as 19 maiores economias do mundo, a União Europeia e, a partir deste ano, a União Africana. A lista é composta por África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, União Europeia, representada pelo presidente da Comissão Europeia e pelo presidente do Conselho europeu, e União Africana. O grupo responde por cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população mundial.
Neste ano, o encontro de líderes do G-20, que reúne os chefes de Estado destes países, acontecerá nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro. Antes disso, em 24 e 25 de outubro, o B-20 reunirá empresários de diversos países em São Paulo, para debater e divulgar os temas que o empresariado defende que façam parte dos debates no Rio.
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