A Oi, em recuperação judicial, brilhou na Bolsa ao longo desta quinta-feira, 15, com sua ação figurando entre as maiores altas do dia após a companhia divulgar lucro líquido de R$ 15 bilhões no balanço do segundo trimestre, contabilizando ganhos pelo corte da dívida. O papel fechou cotado a R$ 4,76, alta de 10,7%.
Por sua vez, este lucro não é tão bom quanto parece, ponderaram analistas, mantendo recomendação de venda das ações por entenderem que a tele foi mal nas suas operações remanescentes e ainda enfrenta incertezas consideráveis pela frente.
“A Oi apresentou mais um desempenho fraco. Apesar de reduzir significativamente sua dívida líquida devido à recuperação judicial, a empresa não mostrou progresso operacional e continuou enfrentando queima de caixa substancial”, afirmaram os analistas da Genial Investimentos, Antonio Cozman, Kaique Rocha e Iago Souza, em relatório intitulado “Não Se Deixe Enganar pelos Números”. “Portanto, mantemos nossa recomendação de venda da ação, com preço-alvo de R$ 4,00″.
Recuperação judicial provocou reviravolta
A Oi apresentou lucro líquido de R$ 15 bilhões no balanço do segundo trimestre de 2024, revertendo o prejuízo de R$ 845 milhões do mesmo intervalo de 2023. Essa reviravolta se deu pela aprovação do plano de recuperação, em abril. O plano abateu a dívida da operadora via descontos, parcelamentos e conversão de valores em ações. Com isso, a dívida líquida foi para R$ 6,6 bilhões, enxugamento na ordem de 70% em relação ao começo deste ano, algo que já era esperado. Esse movimento gerou um ganho R$ 14,7 bilhões de ordem contábil (sem efeito no caixa) para a empresa.
Por sua vez, os outros indicadores financeiros e operacionais ainda mostram uma realidade dura. O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) relatado no segundo trimestre foi negativo em R$ 318 milhões, revertendo dado positivo de R$ 42 milhões de um ano antes.
A receita líquida consolidada totalizou R$ 2,1 bilhões, recuo de 12,6%. A Oi sofreu com a baixa de 23,1% das receitas de serviços antigos, que caíram em desuso (como telefonia fixa e TV por assinatura via satélite), indo a R$ 575 milhões.
Perda de receitas estratégicas
Entretanto, houve também perda de receita nas divisões de negócios consideradas estratégicas, isto é, que fazem parte dos planos futuros da operadora, justamente o que gerou muita preocupação entre os analistas. A receita do braço de conectividade e TI para empresas (Oi Soluções) caiu 23%, para R$ 449 milhões. A receita da divisão de banda larga (Oi Fibra) encolheu 0,9%, indo a R$ 1,094 bilhão. A justificativa foi de que o grupo está com uma proposta comercial mais “seletiva”, focada mais em rentabilidade e menos em volume. Outro problema teria sido as enchentes no Rio Grande do Sul.
Já pelo lado positivo, a Oi conseguiu reduzir seus custos operacionais em 4%, para R$ 2,2 bilhões, com cortes de pessoal e despesas de manutenção de rede, como parte de revisões das operações.
“Mesmo com os esforços de corte de custos e redução do consumo de caixa, achamos que os pontos negativos ainda são consideráveis”, afirmaram os analistas de telecomunicações do UBS BB, Leonardo Olmos e André Sales. “Continuamos cautelosos com a história da Oi e preferimos ficar de fora da companhia”, acrescentaram, em relatório.
Recados da administração
Na teleconferência com investidores e analistas, um dos principais recados do presidente da Oi, Mateus Bandeira, foi que há expectativa de que os resultados do balanço tendem a melhorar significativamente com a migração da telefonia fixa do regime de concessão para o de autorização, o que permitirá uma redução significativa de despesas e melhora no fluxo de caixa. “Estamos em um processo acelerado de simplificação dos serviços legados”, disse Bandeira, explicando que, após a mudança no regime do serviço, boa parte dessa infraestrutura será desligada.
O diretor jurídico, Thales Paixão, lembrou que o acordo entre Oi e Anatel para mudança do regime foi aprovado de forma unânime no plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) e que está no aguardo, somente, da validação por parte da Advocacia Geral da União (AGU). Isso é esperado para acontecer até meados do mês que vem, segundo a direção da Oi estimou na teleconferência.
Na ocasião, Bandeira reafirmou que os próximos passos do plano incluem a venda da operação de banda larga (Oi Fibra), cuja conclusão é aguardada para o começo de 2025; a participação detida pela Oi na V.tal, cuja conclusão é estimada para 2026; e o conjunto de milhares de imóveis. Os últimos, sem data precisa.
Novo leilão
No caso da Oi Fibra, houve já uma primeira rodada do leilão, com apenas um lance, no valor de R$ 1 bilhão, que ficou bem abaixo do esperado, que era de R$ 7,3 bilhões à vista. Portanto, foi recusado. A segunda rodada não terá valor mínimo de lance e poderá abranger também formas variadas de pagamento, como dinheiro, troca de ativos e compensação de dívida, por exemplo. O edital para a segunda rodada deve ser publicado nos próximos dias, e a audiência do processo competitivo é estimada para o começo de setembro, afirmaram os diretores da Oi, durante a teleconferência.
Após as vendas de ativos, a Oi será uma empresa voltada para a prestação de serviços de internet e tecnologia para empresas, com base na Oi Soluções, que tem grande potencial de crescimento, segundo Bandeira. A Oi Soluções tem cerca de 40 mil empresas clientes e contratos de longo prazo nas áreas de segurança, nuvem, análise de dados, entre outros serviços digitais. A receita esperada para 2028 é na ordem de R$ 2,8 bilhões.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 15/08/2024, às 18h08.
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