A companhia de saneamento Aegea e a Equatorial Energia estão no páreo final para apresentar uma proposta por 15% de participação, como investidor âncora, na oferta de privatização da Sabesp. A transação também atraiu o empresário Nelson Tanure, que avalia participar por meio de um dos fundos de seu grupo, segundo fontes.
A Coluna apurou que as duas empresas vão ancorar suas ofertas entre sócios e linhas próprias de financiamento, já que o modelo de privatização apresentado pelo governo do Estado de São Paulo é pouco atraente para investidores financeiros em voo solo. A gestora IG4, por exemplo, desistiu de fazer uma proposta como âncora, assim como outros potenciais interessados, entre os quais a francesa Veolia, a Cosan, a Brookfield e a Votorantim.
Considerando o valor da empresa nesta terça-feira, 18, a fatia equivale a um investimento de R$ 7,5 bilhões, excluindo o prêmio. O prazo para manifestação do interesse terminou na noite da segunda-feira, 17.
Modelo não agradou
O modelo de ancoragem, que impõe um prêmio para assegurar os 15% e ainda uma compensação ao governo estadual caso a fatia que será ofertada fique abaixo do valor de mercado, não agradou muitos investidores financeiros. Especialmente porque o investidor âncora não poderá vender sua participação antes de 2029.
Além disso, haverá o desafio de investimentos de R$ 70 bilhões em cinco anos, conforme o contrato de concessão, a serem feitos sem o controle da companhia, com assentos no conselho de um investidor de referência e decisões compartilhadas com o governo, disse uma fonte. “O modelo ficou para o estratégico, que tem balanço e pode digerir preço mais alto do que o do mercado”, acrescentou.
Na avaliação do presidente de um banco de investimento estrangeiro, investidores internacionais, seja um operador ou um agente financeiro, costumam ter desconforto em serem sócios únicos de governos, por conta das mudanças importantes de direção de política econômica que costumam ter a cada eleição. Por isso, costumam se associar a um investidor local. No caso da Sabesp, segundo uma fonte, a Equatorial negocia recursos com um investidor canadense.
Giro internacional
Para apresentar a Sabesp e o modelo de privatização no exterior, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), embarca no final de semana para os Estados Unidos, onde terão início na próxima semana as apresentações (roadshows) em Nova York e Boston. Estão agendadas reuniões também na Europa, incluindo Londres, para onde o governador viaja em seguida.
A oferta de ações da Sabesp, que pode movimentar de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões, está na fase final. A operação poderia ficar ainda maior se houvesse uma venda primária de ações, emitidas pela companhia para captar recursos. Mas a venda será toda secundária, de ações em poder do governo paulista. A opção foi não fazer a oferta primária agora, segundo fontes, por causa do mercado mais desafiador para ações.
Candidata domina 56% do mercado
As duas principais candidatadas na oferta da Sabesp passam por momentos específicos. A Aegea cresceu fortemente e já tem 56% do mercado de saneamento brasileiro, tendo o fundo soberano de Cingapura (GIC), a Itaúsa e a Equipav como acionistas. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) tem sido grande apoiador dos investimentos da Aegea, e como banco de fomento tem apetite por prazos mais longos.
A Equipav está estruturando desde o começo deste ano um veículo financeiro para saneamento a fim de acessar investidores, incluindo estrangeiros, e participar das decisões de investimento da Aegea. O BTG estruturou uma linha de R$ 1 bilhão em debêntures em março para a Equipav alongar dívida R$ 700 milhões tomada para aportar recursos na Aegea, no processo do leilão da Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae) do Rio de Janeiro, em 2021.
Procurados, o Grupo Equatorial Energia informou que não comenta sobre possibilidades específicas de negócios ou aquisições. A Aegea não comenta sobre Sabesp. A IG4 não comentou.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 18/06/24, às 18h42
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