Fundos de private equity, que compram empresas, deram uma boa freada nos negócios nos últimos dois anos, tanto de aquisições de novas companhias como de vendas das que têm em carteira. Agora, o ambiente de juros em queda e a melhora da avaliação das empresas, primeiro nas bolsas, com o Ibovespa renovando recordes, depois para seus pares de capital fechado, pode ajudar a desencadear novos negócios este ano, na avaliação de bancos de investimento e gestoras de recursos.
No ano passado, foram raros os grandes negócios envolvendo private equity no Brasil, em meio aos juros de dois dígitos, que reduzem o valor das companhias e geram maior dificuldade de financiar transações.
Em número de negócios feitos por fundos de private equity, a consultoria TTR Data estima queda de 11% de janeiro a novembro de 2023, de acordo com os dados mais recentes. Das transações do ano passado, investidores financeiros, como os fundos de private equity, ficaram com apenas 33%, segundo a Kroll. Um dos maiores negócios com fundos recentes foi a venda da Kopenhagen pela gestora americana Advent para a Nestlé.
Lógica é comprar para vender depois com lucro
“A partir do momento que há maior dificuldade de vender os ativos, os fundos ficam mais conservadores também na compra”, afirma o diretor do Itaú BBA, Roderick Greenlees. Se forem bem sucedidos em fazer alguns investimentos este ano, a tendência é que este mercado fique mais ativo, avalia o executivo.
A lógica dessas gestoras é comprar empresas para vender depois com lucro. Uma das formas de se fazer a venda é na Bolsa, com a abertura de capital da empresa. Mas esse mercado está fechado desde agosto de 2021 e a estimativa é que pode reabrir este ano. Outra opção é a venda para um investidor estratégico, mas com a queda da avaliação das empresas, esses negócios também se reduziram.
Em 2020 e 2021, o mercado de capitais aquecido acabou levando vários fundos a fazerem uma reciclagem de suas carteiras, aproveitando o bom momento para vender ativos e captar recursos. “Nos últimos 12 a 18 meses, os fundos têm buscado oportunidades, têm conversado com as partes. O que demorou um pouco mais foi atingir uma convergência de expectativa de valor”, afirma o corresponsável do banco de investimento do Goldman Sachs do Brasil, Ricardo Bellissi. O banco assessorou a venda da Kopenhagen.
Instituições estrangeiras têm muito capital para investir
A visão de que o mercado de capitais de renda variável vai ficar mais ativo em 2024 tem “influência grande” nos fundos para a tomada de decisão de novos investimentos, completa Fábio Federici, o chefe de operações de ações do Goldman Sachs do Brasil. Este mercado ajuda tanto na captação dos recursos para financiar aquisições como é alternativa para a venda das participações na Bolsa. “O mercado estando aberto, funcionando em todas as operações, é bem importante para ajudar a destravar novos investimentos.”
O chefe do banco de investimentos do Citi Brasil, Eduardo Miras, diz que a atividade dos fundos private equity em geral caiu no mercado brasileiro. “A sensação que eu tenho é que a quantidade de conversas é bem menos frequente do que já foi”, comenta. Para o executivo, muitos desses fundos estrangeiros deixaram o Brasil nos últimos anos, e outros se focaram em cheques menores. Ao mesmo tempo, Miras observa que eles estão com muito capital sobrando para investir. A Bain & Company estimou no ano passado que estes recursos somam US$ 3,7 trilhões no mundo.
Mesmo com muito dinheiro para comprar ativos, se as empresas estiverem valendo pouco, os donos podem não estar dispostos a se desfazer do negócio. “Os fundos estão com dinheiro, mas os vendedores podem não querer vender naquele preço, porque acham baixo”, afirma o diretor do Bradesco BBI, banco de investimento do Bradesco, Felipe Thut. “Com taxas de juros caindo, as avaliações voltam a aumentar. Então há uma destravada nos negócios”, comenta o executivo.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 05/01/24, às 16h57
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