O Fundo Garantidor de Crédito (FGC), entidade privada que faz parte da rede de proteção do sistema financeiro, formada por 222 instituições, espera uma estabilidade no ritmo de crescimento dos depósitos elegíveis à garantia, após três anos de expansão acelerada.
De dezembro de 2019 até dezembro de 2022, o volume de depósitos que estão sob proteção do FGC aumentou 74%, saindo de R$ 2,3 trilhões para R$ 3,9 trilhões em dezembro de 2022, segundo o Relatório Anual da entidade, divulgado nesta quarta-feira, 26. Os saldos em poupanças e contas correntes diminuíram 4,06% e 7,17%, respectivamente, em 2022, frente a 2021. Os saldos em LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) e LCI (Letras de Crédito Imobiliário) apresentaram, em contrapartida, crescimento significativo, de 79,80% e 69,12%, respectivamente.
“Foi um crescimento anormal nos últimos três anos e olhando para a frente, esperamos que haja uma expansão mais orgânica”, afirmou o diretor executivo do FGC, Daniel Lima, ao Broadcast.
Nos últimos anos, houve uma migração de recursos para produtos bancários porque os depositantes estavam apreensivos, de acordo com Lima. Agora, ainda que o processo continue, ele observa que os recursos estão saindo da poupança para esses ativos bancários. “O saldo muda muito pouco para o FGC em termos de cobertura”, diz., já que todas essas categorias estão no arcabouço de produtos elegíveis à proteção do fundo.
Depósitos devem desacelerar também entre instituições menores
Os volumes de depósitos garantidos devem desacelerar também entre as instituições de menor porte - classificadas pelo Banco Central como S2, S3, S4 e S5. Nessas categorias, os depósitos dobraram em pouco mais de dois anos, uma velocidade nunca vista anteriormente. “O custo de alavancagem das instituições de menor porte ficou mais alto e elas estão refazendo seus planos de negócios”, observou. Ele considera que esse movimento é bastante saudável, trazendo de volta uma disciplina de alocação.
De acordo com os dados do FGC, do total de depósitos elegíveis (R$ 3,9 trilhões) à garantia do fundo em dezembro de 2022, 78% (R$ 3,05 trilhões) estão concentrados em instituições do segmento S1, sendo os 22% (R$ 850 bilhões) restantes distribuídos em instituições dos demais segmentos do mercado.
Com a limitação da garantia ordinária em até R$ 250 mil, a cobertura do FGC alcançava R$ 2 trilhões, sendo 80% (R$ 1,61 trilhão) em instituições do segmento S1 e o restante (cerca de R$ 407 bilhões) distribuído em instituições dos demais segmentos. Esse risco era de cerca de R$ 150 bilhões antes da pandemia, segundo Lima.
Com Selic elevada, patrimônio do fundo cresceu 15,65% em 2022
O Fundo Garantidor de Crédito fechou o ano de 2022 com seu patrimônio em R$ 107,9 bilhões, uma alta de 15,65% em relação ao ano anterior. Em abril, o patrimônio já alcança R$ 111 bilhões.
“A receita financeira é o grande vetor do crescimento do patrimônio, e conseguimos aproveitar bem este momento (de Selic alta) para capitalizar o patrimônio”, disse Daniel Lima. A receita financeira do FGC saltou 180,1% no exercício de 2022 frente a 2021, de R$ 4,188 bilhões para R$ 11,731 bilhões.
O Relatório Anual de 2022 mostrou ainda aumento para R$ 86,9 bilhões na liquidez do fundo, de R$ 71,5 bilhões em 2021. Segundo Lima, o fundo manteve a trajetória de recomposição do índice de liquidez do FGC, que foi impactado consideravelmente em 2020 pelo aumento significativo das captações de depósitos elegíveis à garantia pelos bancos e financeiras no começo da pandemia. É a liquidez que garante ao fundo sua capacidade de proteger o Sistema Financeiro de choques.
O índice de liquidez fechou 2022 em 2,23%, voltando para dentro da banda regulatória, que vai de 2,3% a 2,7% e da qual o fundo estava desenquadrado desde 2020, quando caiu para 1,95%. Em 2021, estava em 2,11%.
Fundo não enxerga risco sistêmico, diz executivo
Lima afirmou que o FGC não enxerga nenhum risco sistêmico, embora façam parte da dinâmica do mercado “quebras” pontuais de instituições. Em fevereiro deste ano, os bancos BRK e PortoCred foram liquidados extrajudicialmente pelo Banco Central, exigindo a proteção do FGC a depositantes. Até agora, o FGC já devolveu R$ 1,88 bilhão dos R$ 2,2 bilhões dos depósitos que têm cobertura do fundo. O restante, pouco mais de 23%, corresponde a depositantes que ainda não solicitaram o ressarcimento do FGC.
“São casos que na verdade não são realmente surpresa” acrescentou.
De toda a forma, o diretor-executivo do FGC voltou a afirmar que os níveis de inadimplência do sistema bancário continuam sendo observados atentamente. Ele afirmou que o FGC acompanha a inadimplência por meio de análises das informações das instituições associadas e que algumas já atingiram o pico, enquanto outras ainda não.
“Algumas instituições ainda vão passar por estresse, mas outras já estão recompondo margens”, disse Lima, observando que, no agregado, o FGC não vê problemas.
Estes textos foram publicados no Broadcast no dia 26/04/2023, às 11h00
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