EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Bastidores do mundo dos negócios

Após ‘sprint’ de mais de R$ 40 bi em setembro, emissões de empresas perdem fôlego

Mercado registrou volume recorde de captações em títulos incentivados

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Cynthia Decloedt
Mercado registrou volume recorde de captações incentivadas Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO / undefined

Depois de um volume recorde de captações feitas com emissão de títulos como debêntures, certificados de depósito imobiliário e do agronegócio, as empresas começam a colocar o pé no freio e bancos engavetam em seus balanços emissões para as quais deram garantia firme. Por trás desse movimento, está a volatilidade no mercado de juros, causada pela incerteza sobre quando o banco central norte-americano começará a cortar as taxas. O prêmio implícito nos preços dessas ofertas, ou a remuneração oferecida, ficou pequeno para alguns investidores. Os bancos coordenadores da emissão de R$ 2,2 bilhões de debêntures de Equatorial, por exemplo, ficaram com praticamente toda a série de papéis incentivados, mais de R$ 1 bilhão em seus balanços. Outras operações, além de Equatorial, também foram parar na gaveta dos bancos.

PUBLICIDADE

A expectativa é que daqui até o final do ano, o ritmo diminua para as ofertas dos títulos incentivados. “A questão não é demanda, é preço”, disse o diretor do Bradesco BBI, banco de investimento do Bradesco, Felipe Thut. “Os bancos fecharam preço com as companhias quando a taxa era outra, estava mais baixa”, acrescentou. A NTN-B, por exemplo, que compõe o preço das debêntures e outros papéis incentivados, estava no começo de agosto em IPCA mais 4,90% para o vencimento de 2030 e, agora, supera 5,90%.

“Isso reduz o prêmio de uma operação que estava prometida a IPCA mais 6% de retorno, por exemplo”, diz. De toda a forma, Thut afirma que o mercado está se acomodando, porque além da mudança de taxa, houve um volume muito grande de ofertas.

Mercado viveu paralisia por eventos da Americanas e Light

O primeiro semestre foi marcado por praticamente quatro meses de paralisia do inesperado evento de crédito de Americanas e Light. Em setembro, o mercado de capitais movimentou R$ 57 bilhões por meio de captações feitas por empresas, o maior volume mensal do ano, puxado pela emissão de R$ 47,7 bilhões de debêntures, um aumento de 40% em relação a agosto.

As emissões de certificados de crédito do agronegócio (CRA), imobiliários (CRI) e debêntures incentivadas também foram destaque em volume de operações e podem deixar de ser uma opção atraente. Para o executivo de outra instituição que coordenada ofertas e não quis ser identificado, o grande problema foi que as empresas esperaram queda no prêmio para captar. “Foram 12 meses em seis”, disse. Segundo ele, somente no ano que vem deve haver um equilíbrio entre demanda e oferta. Ele argumenta que para o investidor pessoa física, que olha o retorno como um todo, a alta das NTNBs podem ter um viés positivo.

Publicidade

A sócia e gestora de estratégias de crédito da Ibiúna, Vivian Lee, reitera que tem ouvido de interlocuções com agentes do mercado, que nos próximos dois meses emissões incentivadas de primeira linha, que pagam prêmios menores - serão mais difíceis de serem distribuídas ao mercado. “Devem emplacar ofertas com spreads (prêmios) acima de 200 pontos-base”, afirma. Lee acrescenta que já começam a ser apresentadas aos investidores operações com mais prêmio. Já as captações que têm como público os investidores institucionais, como as assets, e os papéis são emitidos tendo o CDI como taxa na composição de preço tem encontrado espaço no mercado.

A Smartfit fez a venda de R$ 600 milhões de debêntures. A Compass emitiu R$ 1,5 bilhão. Ambas operações foram feitas na sexta-feira, com distribuição total das ofertas. Tiveram demanda perto de uma vez e meia. O Banco Mercedes levantou R$ 700 milhões em letras financeiras e a demanda chegou a duas vezes e meia.

Recentemente, no entanto, as dificuldades financeiras enfrentadas pela administradora de cartões Credz pesaram nos preços das debêntures no mercado secundário, que é uma referência para as ofertas primárias. Investidores ficaram mais cautelosos para empresas “menos óbvias”. Segundo Lee, o mercado passou a optar por papéis de primeira linha no secundário, uma vez que Credz era um risco não mapeado. Mas esse efeito já se atenuou.

A Credz tem uma debênture de R$ 140 milhões que vencem em dezembro deste ano. O papel saiu de 100% do valor de face (nominal) para 50% do valor de face. Com pouco mais de R$ 3,5 bilhões em dívidas, a Credz precisa de uma solução de curto prazo ou corre o risco de calote. A companhia já adiou o pagamento de R$ 80 milhões ao BV, que já entrou com ação de execução. A DM está em negociação para comprar a Credz.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.