Os quatro maiores bancos brasileiros negociados em Bolsa perderam R$ 122 bilhões em valor de mercado ao longo do ano de 2024. O valor é superior ao que o Bradesco é avaliado pelos investidores (R$ 118,1 bilhões), e reflete o pessimismo que tomou conta da B3 no segundo semestre. Na visão de analistas, com o aperto da taxa Selic para conter a inflação, a carteira de crédito dos bancos deve crescer menos em 2025 e há riscos de aumento na inadimplência, que foi uma pedra no sapato do setor durante os anos de 2022 e 2023.
Maior queda. Em termos proporcionais e nominais, a maior queda foi a do próprio Bradesco, que perdeu cerca de 30% do valor desde o começo do ano. Em um ano de início da transformação, o segundo maior banco privado do País contrariou expectativas do mercado de uma recuperação mais rápida da rentabilidade, mesmo sem ter prometido que a retomada seria veloz.
Logo depois. Mesmo com resultados em alta, o Santander Brasil perdeu mais de 25% do valor de mercado. Pesou em especial a mensagem transmitida pelo banco no balanço do terceiro trimestre: com o cenário mais incerto na economia, 2025 deve ser um ano de desaceleração no crédito.
Selic a 14,25%. O pano de fundo para essa desaceleração no crescimento é a taxa Selic, que deve chegar a pelo menos 14,25% ao ano - e parte do mercado acredita que pode até mesmo furar os 15%. Com juros mais altos, a capacidade de consumo e pagamento de famílias e empresas cai, e os bancos fecham a torneira para conter a inadimplência.
Efeito dominó. Na visão de executivos do setor, uma eventual piora do cenário deve começar pelas empresas. O crédito corporativo tem juros atrelados à Selic, ou seja, o custo financeiro sobe junto com o aperto monetário. Em setores como o varejo, que tem margens baixas e ainda não se recuperou totalmente do ciclo ruim de 2022 e 2023, os problemas podem surgir rapidamente.
O outro lado. O banco que perdeu menos valor entre os quatro, o Itaú, tem apontado a receita que o setor deve seguir: crescimento entre clientes conhecidos e com renda mais alta. Essa fórmula fez com que o conglomerado atravessasse intacto a piora do ciclo anterior, e manteve a rentabilidade acima dos 20%. Como resultado, os acionistas receberam R$ 11 bilhões em dividendos extras no começo deste ano, e devem ganhar ainda mais em 2025.
Tempo nublado. No Banco do Brasil, a queda de 11,7% no valor de mercado foi motivada pela piora no crédito do setor agrícola, que teve um 2024 difícil após anos de bonança com a contração nas margens dos produtores. Ainda assim, o BB caminha para um lucro recorde no ano, e espera voltar a ganhar tração em linhas de crédito mais rentáveis no ano que vem.
Esta notícia foi publicada no Broadcast+ no dia 31/12/2024, às 10:00
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