A pressão do juro alto e do baixo crescimento econômico começa a arrefecer para as empresas brasileiras. Os sinais vêm da ampliação dos setores que mostram crescimento de atividades e nas indicações de que projetos de investimento estão saindo da gaveta.
A visão é do diretor do Corporate Investment Bank (CIB) do Banco do Brasil, João Fruet, que cita ainda o fato de o banco já ter desembolsado R$ 42 bilhões este ano, até a primeira semana de abril, para grandes empresas, que faturam ao menos R$ 1,3 bilhão. O volume, considerando o primeiro trimestre, é 80% maior que o do mesmo período do ano passado. “Isso corrobora a leitura de que o momento está ficando gradativamente mais positivo”, diz.
O executivo, que tem em sua carteira 1,4 mil grandes empresas, várias com capital aberto em bolsa, observa que, ao contrário de 2023, em que o agronegócio puxou a atividade macroeconômica, neste ano mais setores mostram desempenho melhor, como o industrial, o imobiliário e o de serviços. “Isso aponta para reversão do quadro mais adverso de juro alto e custo da dívida, que inibe a confiança dos empresários nos investimentos”, afirma.
A projeção do BB é que a Selic encerre este ano em 9,25%. Fruet diz que com essas condições, as empresas darão vazão aos investimentos até aqui represados, acelerando o ritmo no segundo semestre. Ele afirma ainda que a maior parte das companhias em sua carteira está bem posicionada para “tirar da gaveta” investimentos, já que desde 2022 vêm alongando dívidas, aproveitando o acesso que têm ao mercado financeiro bancário e de capitais.
Fruet acredita também que “o pior já passou” do ponto de vista de riscos à sustentabilidade financeira e operacional das companhias, dado o ambiente adverso trazido pela pandemia, juro de dois dígitos e do evento Americanas do início de 2023, que travou o mercado de captações e de crédito bancário.
Mesmo o varejo está em uma via de recuperação, segundo ele, à medida que a direção do juro é de queda e que o consumo tradicionalmente aumenta no segundo semestre. No entanto, a velocidade de consolidação desse caminho ao varejo estará relacionada a uma eventual aceleração de queda do juro no Brasil em 2025, como reflexo de uma aguardada política monetária mais frouxa nos Estados Unidos.
Agronegócio não é preocupação
O setor do agronegócio, que atualmente chama atenção do mercado, não é visto pela área de grandes empresas do BB com preocupação, já que os grupos empresariais são muito sólidos e costumam conviver com ciclos de mudanças de preços das commodities e de produção. “Há uma ‘arritmia’ [nos preços], mas não, estruturalmente, um risco”, afirma.
O mercado de capitais mais robusto este ano também entra na conta dos “ventos favoráveis” para 2024. A projeção do BB é de um aumento em 20% nas ofertas de títulos de crédito privado e ações ao mercado em 2024, frente aos R$ 463,70 bilhões do ano passado.
Em meio à mudança da legislação, Fruet vê também empresas ligadas ao agronegócio e ao setor imobiliário aproveitando a forte queda no custo de captação com certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) e imobiliário (CRI) para levantar recursos com esses papéis. Ambos os títulos, assim como as debêntures incentivadas, estão muito demandados por fundos, diante da queda na oferta dos CRAs e CRIs, após o governo ter imposto restrições aos lastros.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 10/04/24, às 15h36.
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