No mercado de fusões e aquisições há décadas, Daniel Wainstein viu, nos anos mais recentes, o Brasil ser encarado quase como um pária mundial por grandes investidores, que praticamente tiraram o País da lista de destinos para seus recursos. “Havia uma mistura de discursos contra a preservação ambiental, com ataques às instituições democráticas que os investidores queriam evitar”, diz ele, que é sócio sênior da Seneca Evercore, consultoria brasileira especializada em M&A, sócia do banco de investimentos global Evercore. Somado às incertezas eleitorais do ano passado e às dúvidas em relação ao novo governo, e o resultado foi um primeiro semestre magro para o setor como um todo. Se no mesmo período de 2021 foram feitas US$ 27,2 bilhões em transações, neste ano elas somaram apenas US$ 7,6 bilhões.
Segundo Wainstein, porém, as perspectivas começam à mudar. “Até abril, estávamos lambendo as feridas”, diz ele. “Agora, temos visto interesse forte e renovado tanto de grandes investidores financeiros como de estratégicos (interessados em operar os negócios), sendo que diversos ainda não tem presença no Brasil”, afirma. Entre eles, está a empresa com sede em Porto Rico Evertec, que adquiriu recentemente a brasileira Sinqia, num acordo que poderá movimentar R$ 2 bilhões. Bem como o fundo de investimento norte-americano Dragoneer que, ao lado da General Atlantic, tem negociado a compra da empresa de educação Arco. Os dois acordos estão entre os negócios nos quais a Sêneca Evercore esteve envolvida no primeiro semestre que, juntos, podem movimentar R$ 9,2 bilhões.
A melhoria do cenário vista por Wainstein, porém, diz respeito ao futuro. Com 35 negócios em andamento, ele prevê que os próximos 12 meses serão bem mais fortes em termos de fechamento de negócios - e que o patamar do primeiro semestre de 2021 seja retomado. “Várias negociações que estavam em andamento voltaram à mesa e novas começaram porque o lado comprador da equação - o investidor internacional financeiro ou estratégico - começou a querer participar do Brasil que hoje tem menos nuvens cinzas no céu”, afirma. Segundo ele, primeiro chegaram os investidores financeiros já acostumados ao mercado nacional e que, mesmo com certo risco, “querem comprar quando o preço ainda não subiu na plenitude”. Agora, o interesse dos investidores estratégicos foi despertado porque eles veem uma perspectiva menos arriscada. “Para eles, não é tão importante comprar na baixa porque a intenção é ficar por anos construindo um negócio que precisa de um ambiente estável”, diz.
Para o executivo, sinais sobre o Brasil foram muito bons
Evidentemente, diz Wainstein, o Brasil sempre terá certo risco, mas tem também um mercado interno pujante e grande chance de continuar crescendo. As reformas recentes, a estabilidade econômica e da democracia nacional e a potencial valorização do real também têm impacto significativo no movimento. Apesar de ainda serem necessárias definições importantes em relação à reforma tributária - como toda a parte ligada à imposto de renda e aos dividendos para investidores e pessoas físicas -, os indícios até agora foram bons, segundo ele. “O entrave tributário diminuía as perspectivas de sucesso do estrangeiros no País e a nossa produtividade como um todo”, afirma. “O mercado trabalha com sinais e, até agora, eles foram muito bons.”
De acordo com ele, entre as áreas que têm chamado a atenção dos estrangeiros estão tecnologia, prestação de serviços em geral e bens de consumo. Como destaque, estão fintechs e serviços financeiros de maneira geral. Para ele, esse é um mercado que será um catalizador para uma consolidação e maior amadurecimento, com a rápida mudança pelo qual o mundo das finanças vêm passando no País.
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 25/07/23, às 17h52.
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