Com os olhos do mundo voltados à COP30, que acontecerá no próximo ano em Belém, o Banco da Amazônia (Basa) tem recebido ofertas de recursos em volume inédito por parte organismos multilaterais, a serem repassados ao desenvolvimento da região. O primeiro convênio de repasse internacional, de 80 milhões de euros (cerca de R$ 400 milhões), foi assinado com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) durante a visita do presidente francês Emmanuel Macron ao País, em março. Está em fase final de negociação outra linha de US$ 100 milhões (por volta de R$ 500 milhões) com o Banco Mundial e, em andamento, discussões com o banco de desenvolvimento alemão KfW, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Europeu de Investimento (BEI), entre outros, segundo Luiz Lessa, presidente do Banco da Amazônia.
“Com a vinda do Macron ao País, houve grande repercussão internacional e outros organismos começaram a acelerar essa parceria conosco, pelo repasse de recursos”, diz Lessa. “Apenas no segundo semestre deste ano, teremos mais R$ 1 bilhão a serem repassados e a expectativa é de incremento mais adiante.”
Esta oferta de recursos deve ser acompanhada de um aumento de capital, via follow on (oferta subsequente de ações), de até R$ 2 bilhões. O Banco da Amazônia já contratou o assessor que vai estruturar o eventual aporte, que diluiria a participação do governo na instituição, hoje de 97%. “Os recursos serão usados para aumentar nosso índice de Basileia (hoje em 13,3%) e nossa capacidade de crédito”, diz ele. “Ao acelerar o crédito, aceleramos o desenvolvimento na região.”
Volume de recursos para fomento aumentou 30%
Dentro desta estratégia, o volume de crédito de fomento aumentou em 30% no trimestre, indo para R$ 1,4 bilhão. São recursos voltados sobretudo para empréstimos de pequeno porte. Desse total, R$ 69 milhões foram destinados a microcrédito e R$ 681 milhões para infraestrutura, sendo que o Basa trabalha apenas com empresas privadas.
Além disso, mais de 10% do crédito feito no trimestre, cerca de R$ 1,7 bilhão, foi para negócios localizados em municípios de baixo IDH (índice de desenvolvimento humano). Pouco mais de R$ 1,2 bilhão foram voltados a linhas verdes de financiamento e cerca de R$ 19 milhões a microcrédito para mulheres. O Basa também responde por 97% do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) no Amapá e 87% em Roraima. “Não são Pronafs de R$ 100 mil, como fazem os grandes bancos, mas de R$ 10 mil, R$ 15 mil”, afirma. “O que importa é levar o crédito a quem precisa.”
A instituição, que divulgou seu balanço ontem, 15, teve lucro líquido de R$ 206,8 milhões no primeiro trimestre de 2024, com queda de 27,9% em relação ao trimestre anterior. Segundo Lessa, porém, a retração não teve relação com a pulverização do crédito a pequenos negócios ou com o crescimento do microcrédito, que são pouco lucrativos, mas sim com duas recuperações judiciais de clientes maiores e a reclassificações cadastrais ligadas a esse problema.
Segundo Lessa, no ano passado o banco teve inadimplência de 1,92% e, no primeiro trimestre, de 2,11%. “A média do mercado está em 3,21% e esse incremento na provisão para devedores duvidosos foi um soluço”, diz. “Voltaremos aos trilhos nos próximos trimestres.” Apesar de uma das recuperações judiciais ter acontecido com um cliente do setor de agronegócio, que tem atravessado dificuldades, ele não vê um problema sistêmico nessa área para a instituição.
Oferta de produtos
Para dar suporte no balanço a essa ampliação do crédito social, o banco tem avançado na oferta de produtos com os quais tem maior retorno, como seguridade (que cresceu 76% no primeiro trimestre) e crédito comercial (com alta de 12%). Também estuda a atuação em créditos de carbono, biodiversidade e outras áreas. “No primeiro trimestre, tivemos a maior receita financeira de todos os tempos, num período que historicamente é mais fraco”, diz ele. As receitas financeiras ultrapassaram R$ 1 bilhão, com alta de 18,7% em relação aos mesmos meses do ano anterior.
Em relação aos recursos trazidos por entidades bilaterais e multilaterais, Lessa afirma que serão direcionados a projetos de transição energética, bioeconomia, produção integrada lavoura-pecuária e floresta, transporte e infraestrutura, entre outros. “É um dinheiro que vem departamentalizado”, diz Fabio Yassuda Maeda, diretor de relação com investidores, controle e risco do Basa. “Mas não só temos demanda para atender a essa segmentação, como já atuamos em relação ao que as entidades estão pedindo.”
O Basa também tem financiado hotéis, restaurantes e outros empreendimentos em Belém, que se preparam para a COP30, por meio do Fundo Geral de Turismo (Fungetur) do governo federal. Também está investindo R$ 30 milhões na criação do primeiro centro cultural da região, que ficará localizado na sede do banco, em Belém. Terá cerca de 3 mil metros e receberá exposições de artes visuais, cênicas, contará com biblioteca, entre outros serviços. A previsão é de inauguração antes da COP30, no início de julho do próximo ano.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 16/05/24, às 13h21
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