Enquanto jornais do mundo todo estamparam nesta segunda-feira o anúncio sobre a conclusão da aquisição do Credit Suisse pelo também suíço UBS, as mudanças regionais que virão a reboque do maior negócio bancário no mundo desde a crise financeira de 2008 serão conhecidas nos próximos dias. Na maioria dos mercados, as lideranças devem ser consolidadas nas mãos de nomes do banco comprador. É o caso do Brasil, onde é esperado que a atual presidente do UBS no País, Sylvia Coutinho, assuma a operação combinada com o Credit Suisse, segundo apurou o Broadcast.
Já o executivo Ivan Monteiro, que ajudou a comandar as operações no Brasil e atualmente é presidente do conselho, deve seguir no conselho da instituição combinada, de acordo com fontes.
Marcelo Chilov, o atual presidente do Credit no Brasil, deve assumir o comando nas Américas da área de gestão de fortunas, um segmento que no mundo terá mais de US$ 3,4 trilhões em ativos. O executivo era o responsável pela área na América Latina. A expectativa é que o banco resultante seja maior que o rival americano JPMorgan na gestão de fortunas na América Latina.
Credit ainda é forte no segmento de alta renda no Brasil
No Brasil, o Credit ainda se mantém como um dos maiores gestores dos recursos dos endinheirados, mesmo após a crise que forçou o governo suíço a vender às pressas o banco, em março. Ao contrário, desde o anúncio da compra pelo UBS, o conglomerado conseguiu começar a reverter o movimento de saída e passou a atrair recursos no País, diz uma fonte, na condição de anonimato.
Clientes brasileiro receberam uma carta sobre a conclusão da venda, parecida com a publicada nos jornais do mundo todo, com foco mais local. “Aqui no Brasil é um pouco diferente. É o único mercado em que o Credit Suisse era bem maior do que o UBS”, diz uma pessoa próxima. O UBS, que tem uma parceria com o Banco do Brasil para a operação de banco de investimento, tem R$ 1,4 bilhão em ativos, enquanto o Credit tinha ao final de março R$ 29 bilhões no País - R$ 10 bilhões a menos que do no final de 2022, segundo os dados mais recentes do Banco Central (BC) brasileiro. Em meio à crise, o Credit vem se desfazendo de ativos, incluindo parte de sua participação na gestora Verde Asset, vendida em março para a Lumina Capital.
Se o banco suíço encolheu em ativos, na gestão de recursos de investimentos perdeu menos recursos de investidores, fechando abril com R$ 77,6 bilhões, dos quais quase 90% são da área private - o segmento de mais alta renda, perdendo apenas para nomes como BTG Pactual e Itaú Unibanco. No começo de 2023, o banco tinha R$ 79 bilhões, segundo os dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). “Mesmo com os solavancos, o Credit ainda é uma fortaleza no segmento no Brasil”, afirma outra fonte do banco suíço.
Com a conclusão da compra do rival, o UBS consolida o posto de maior banco suíço, com US$ 1,6 trilhão em ativos, e reforça a sua presença global. “Em vez de competir, agora nos uniremos ao embarcar no próximo capítulo de nossa jornada conjunta”, disse o CEO do UBS Group AG, Sergio P. Ermotti, ao comentar o negócio, anunciado em março último.
Ações do Credit deixaram de ser negociadas em bolsas pelo mundo
Já o Credit, um dos 30 bancos sistemicamente importantes do mundo, fecha as portas após 167 anos de sua inauguração. Nesta segunda-feira, suas ações deixaram de ser negociadas na Suíça, em Nova York e na B3, onde tinha BDR (recibos que representam papéis listados no exterior).
Em paralelo à conclusão do negócio, o UBS anunciou uma série de mudanças em cargos de liderança nesta segunda-feira. Vários executivos do Credit Suisse devem deixar o banco, elevando o movimento de saída desde o anúncio da venda. Outros ficam, mas em posições secundárias. Apenas um quinto de um total de 160 de posições de liderança no banco resultante terá executivos do Credit Suisse, relatou a mídia internacional.
Fuga de talentos para a concorrência e colisão de culturas
No Brasil, relatos na Faria Lima são de que o banco perdeu talentos nos últimos meses para os concorrentes brasileiros e estrangeiros. Um deles foi o diretor de renda variável para a América Latina, Mauro Oliveira, que deixou a casa depois de mais de 25 anos, e foi para o Banco J.Safra, cujo atual CEO é o também ex-Credit José Olympio Pereira.
Apesar da conclusão do negócio, o mercado não vê o fim das crises. Para analistas, o casamento fechado às pressas pelos reguladores da Suíça para sanar a turbulência enfrentada pelo Credit pode render mais obstáculos no desafio de solucionar os problemas do banco. “Tornar-se um megabanco com tamanha velocidade, com duas culturas diferentes colidindo, não será nada fácil”, avalia a líder de mercados da Hargreaves Lansdown, Susannah Streeter, que antevê mais cortes de vagas e venda de ativos à frente.
Procurado, o UBS não comentou.
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